“Quanto mais nos curvamos diante dos opressores, mais mostramos o traseiro para os oprimidos” Millor Fernandes
A palavra poder, é derivada do latim “potere”; significa: o direito de deliberar, agir e mandar. Conforme o contexto pode significar também: a faculdade de exercer a autoridade, a soberania, com a influência de qualidades pessoais ou da força (quando não possuirem as qualidades pessoais necessárias para o exercício do poder). Nos estudos sociais e comportamentais, o poder é entendido como a habilidade de impor sua vontade sobre os outros, utilizando todos os meios possíveis, como o CQC (custe o que custar). No ambiente social, é conhecido diversos tipos de poder: o político, o social, o econômico, o militar, entre outros. Em cada ambiente, ter-se-á um entendimento específico. Na política o poder é definido como a capacidade de imposição, de impor alguma coisa sem dispor da possibilidade de avaliação. Karl Marx foi com Michel Foucault, Marx Weber, os que publicaram as obras mais importantes sobre o poder e as relações com a sociedade. Entendo o ser humano como um ser em relação, um ser político por excelência (as decisões do ser humano são políticas); é preciso considerar as diferentes formas que o poder se expressa nas relações sociais, no cotidiano. As relações de poder nas organizações nem sempre acontecem com critérios justos; é semelhante a vida. Verdade e justiça são sentimentos naturais entre os humanos e clamamos por sua aplicação; contudo, por serem juízo de valor, quase sempre não existem, pois, nas instituições corporativas, valores são os que menos se aplicam em suas organizações.
O poder muda as pessoas?
Segundo R.Kurz: “o poder torna as pessoas estúpidas e muito poder, torna-as estupidíssimas”.
Jacque Lacan, célebre psicanalista, diz: alguém que tem poder e se sente “rei”, muda sua personalidade. Qualquer cidadão quando tem poder seu psiquismo fica alterado. Passa a ter um olhar diferente (de cima para baixo) diante dos demais, principalmente diante dos seus comandados. Interessante, estes (os comandados) passam a ver o “rei” com um sentimento diferente, até de admiração, como o “rei do pedaço”.
Portanto, na relação de poder, há mudanças de sentimentos, das paixões, dos desígnios e da estupidez.
O lugar simbólico do poder, exerce uma influência nos demais, colocando alguns até a uma voluntária servidão (os puxa-sacos).
Os símbolos são marcantes nas vidas das pessoas. No primeiro momento o poder atrai e fascina; depois de ocupado deseja-se que seja eterno ou pelo menos mais duradouro (exemplo: os políticos no poder). O poder causa uma “doença” significativa naqueles que o detém, gerando muito medo de perdê-lo. Os sábios entendem que ele é transitório, como Nelson Mandela, e, que o poder pertence ao cargo e não à pessoa, como o célebre jurista Sobral Pinto: ”todo poder emana do povo e, somente em seu nome deve ser exercido”. A maioria das pessoas devido o prazer do poder, irão fazer de tudo, utilizarão até atos ilícitos para se perpetuarem no cargo. Para as pessoas de personalidade fraca ou mal intencionadas, o poder representa status, vaidade, elevação, oportunidades. Para as pessoas de bom caráter, o poder representa responsabilidade e maneira de realizar procedimentos de valorização das pessoas e do trabalho. O poder corrompe os não preparados para exercê-lo. Quem está no poder necessita de vestir máscaras, desempenhar papéis, e, armar jogos( como todas as pessoas), porém, com um ingrediente a mais, armar-se de molduras, fundamental para a sua sobrevivência. A persona (a mascara) é necessária para iludir a si mesmo e enganar os outros. A moldura (a blindagem) torna-se obrigatória para demarcar a ação do representante do poder. A falta da blindagem ou a existência de uma moldura não propícia, irá expor a pessoa com a propriedade do poder, minimizando a força motora que a impulsiona para obter mais poder; passando a constituir uma doença psíquica ( Ex: Hitler; Mussolini; Fidel e etc.).
Porque será que alguns loucos cismam que são o Napoleão? O poder e a loucura são vizinhos próximos; é muito tênue a linha que as separa. Aqueles que desejam veemente e incessantemente um cargo, político ou não, desenvolvem uma “loucura narcisista” que se manifesta na hiper valorização de si mesmo e dos seus feitos (auto admiração), por isso não dão atenção ao que vem dos outros. A sensação do poder fazem as pessoas experimentarem um gozo profundo. O segredo é como exercê-lo. O gozo por estar no poder (mesmo que por uma medida pequena de tempo), faz subir à cabeça uma sensação estranha de prazer, e, torna o coração mais insensível. Historicamente, observamos como as classes “dominantes” tem sido cruel, devido sua indiferença, às necessidades dos outros; fato que tem gerado em algumas culturas uma revolta, com cravos ou armas na mão.
Estudos da psicologia comportamental revelam: observa-se que as pessoas, quando ascendem a cargos superiores, a sensação provoca mudanças marcantes de personalidade. Se quisermos, realmente, conhecermos uma pessoa é dar-lhe poder - diz o adágio popular. O poder revela uma pessoa que não conhecemos.
Nas corporações, estudos tem mostrado que nos diferentes escalões, as mudanças são mais marcantes nas pessoas que ocupam cargos menores na ordem hierárquica. Estudos das doenças ocupacionais revelam que a causa principal da sua ocorrência, não é o tipo de trabalho ou a repetição dele, mas sim, a presença de um chefete.
Quais são as principais mudanças que ocorrem com as pessoas quando chegam ao poder?
Segundo o Psicólogo Ricardo Vieira (UERJ), são:
1) no modo de vestir: as roupas de ocasião especial passam a ser vestidas cotidianamente, mesmo quando não necessário; 2) nas relações pessoais: os antigos companheiros poderão ser substituídos (pelo menos alguns) por novos companheiros, para sentirem-se menos ameaçados; 3) no tratamento com os outros: torna-se autoritário; podendo até gritar e sempre fazendo ameaças; 4) com antigos apoios e alianças: aqueles que o apoiaram a chegar ao poder transformam-se em arquivos vivos das suas limitações e defeitos. O poder pode levar a não se identificar mais com os antigos colegas de profissão. As pessoas não se vêem mais como antes; 5) resistência em fazer auto-crítica: antes de ocupar o poder vivia criticando tudo. Politicamente, a oposição só é oposição enquanto não chega ao poder, depois é situação. Ao ocupar o poder revela-se intolerante as críticas, mesmo que mínimas e construtivas. O poder torna as pessoas cegas e surdas; e, não podem ser questionadas. As pessoas quando no poder protegem-se da crítica e estabelecem pactos com os colegas mais próximos, os que exercem a função de informantes e puxa-saco, de se enganarem a si mesmo. Mesmo sem querer saber a verdade, acreditam que está tudo muito melhor do que antes. Por isso nos regimes totalitários procuram eliminar aqueles que divergem de suas decisões, sem avaliar os resultados e as possibilidades. Só que está no poder está certo. Quem está no poder necessita de informações para exercitar e manter o poder; contudo, raramente tem as informações certas, porque os informantes o fazem segundo o seu próprio olhar e interesse.
O poder é altamente sedutor; o desejo de manter-se nele corrompe as pessoas. O custo social de mantermos as mesmas pessoas no poder é muito alto, por isso os intelectuais liberais em todos os lugares, desejam e votam na oposição (até ela tornar-se situação). Enquanto uma pessoa não preparada estiver no poder os interesses sociais são descartados, devido indiferença referente à valorização dos direitos e interesse do cidadão comum. Os ocupantes do poder, mesmo em caráter provisório, dificilmente voltarão a serem os mesmos; o ideal seria voltar melhor, por ter conhecido os dois lados da mesma moeda.
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Você é um erudito. Li seu texto, claro e profundo,sem deixar de ser leve. Parabéns...
ResponderExcluirParabéns!!! Belíssimo texto, aprendi muito com ele...
ResponderExcluir