O que é mentira? Segundo a Wikipédia, a enciclopédia livre, mentira é uma declaração feita por alguém, que acredita ou suspeita que ela seja falsa, na expectativa que os ouvintes ou leitores possam acreditar nela. A mentira pode ser uma declaração falsa genuína; uma verdade seletiva (contar só o que interessa, resultando n a expressão popular: “ meia verdade também é mentira”); uma omissão (esconder a verdade); ou, uma verdade usada com a intenção de enganar. “o dom da fala foi concedido aos homens não para que eles enganassem uns aos outros, mas sim para que expressassem seus pensamentos uns aos outros” – Sto. Agostinho.
A mentira deve ser entendida como intenção de enganar ou o fato de ter enganado alguém? Se uma declaração, mesmo que verdadeira, se quem diz acredita ser falsa pode ser considerada uma mentira, conclui-se que a mentira relaciona-se com a intenção. O fato são as conseqüências. Mentir para tirar proveito, criar um conflito, piorar uma situação, vangloriar-se, é considerado antiético em todos os tempos e culturas. A mentira é um instrumento poderoso e perigoso, devido as vantagens que o ser humano deseja obter e o prejuízo que causa àqueles que necessitam ouvir e conviver com a mentira. João 8:44 faz referência em função das conseqüências que o pai da mentira é o diabo. “a origem da mentira está na imagem idealizada que temos de nós próprios e que desejamos impor aos outros” - Anais Nin. Imagem de nós próprios ou de uma situação.
O que caracteriza a mentira: esta no ato de quem ouve ou de quem diz? Mentira é quando a declaração falsa sai do ator, ou quando chega ao espectador? A mentira está na intenção de enganar, para obter vantagens ou não sofrer sanções. As histórias de ficção, mesmo não correspondendo a fatos reais, pois é inventado, não são consideras mentiras, pois, a intenção de quem o diz não foi de enganar e nem obter algum tipo de vantagem, simplesmente de entreter; está explicito que a ficção não corresponde a verdade. Mentir é contar mentiras e não estórias. “a mentira é muita vez involuntária como a respiração” - Machado de Assis.
Como podem ser entendidos os mentirosos? Podem ser classificados em: esporádicos (os que contam mentiras eventualmente, circunstancialmente), e, os contumazes (os que contam mentiras com freqüência), normalmente apenas a esses são chamados de mentirosos. ” o amor pode morrer na verdade, a amizade na mentira” – Abel Bonnard
As vezes a mentira é permitida ou necessária? Platão dizia que sim. Aristóteles e Kent disseram que não. A mentira está ligada à moralidade e a ética; inclusive para algumas religiões é pecado capital. Os poetas, escritores, comediantes e humoristas, utilizam com freqüência a mentira para expressarem suas artes e não consideramos falta de ética e nem imoralidade. Os poetas são fingidores qualificados, fingem com tanta convicção referente à suas dores, que acreditamos ser fingimento a dor que deveras estão sentindo. As mentiras são toleradas quando necessárias, para se evitar conflitos; neste caso a pessoa não é considerada mentirosa e sim astuta, prudente, sábia, de bom-senso. Esta necessidade de mentir é chamada de “mentira social”, pois são consideradas inofensivas e sem a intenção de tirar vantagens pessoais. “não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada” – Clarice Lispector.
O que é melhor: uma doce mentira ou uma verdade amarga? Depende da ocasião. “a verdade que fere é pior do que a mentira que consola” - Chico Xavier. Com exceção das mentiras sociais e as convencionais: “assim como uma gota de veneno compromete um balde inteiro, também a mentira, por menor que seja, estraga toda nossa vida” – Mahatma Gandhi.
O que são mentiras convencionais? São inofensivas e utilizadas como eufemismo para evitarmos declarações explicitas de algo desagradável, como: respostas às perguntas insinceras; desculpar-se para não comparecer a um evento social ou encerrar um encontro; dizer o que naquele momento as pessoas desejam e necessitam ouvir. Por serem mentiras menores, não são consideradas socialmente como mentiras. “as convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras” – Friedrich Nietzsche.
Será mais fácil as pessoas acreditarem numa “grande mentira” contada varias vezes, do que numa “pequena verdade” dita apenas uma vez? “uma mentira dá uma volta inteira ao mundo antes mesmo de a verdade ter oportunidade de se vestir” – Winston Churchill.
Exageros são mentiras? Por não corresponderem a verdade são consideradas mentiras, que podem ser graves conforme a intenção obter algum tipo de vantagem; ou necessárias, sociais ou convencionais, quando são inofensivas e tem como objetivo valorizar uma situação, melhorar a autoestima de alguém, tornar o ambiente mais descontraído nem que seja para “jogar conversa fora”. “as pessoas que falam muito, mentem sempre, porque acabam esgotando seu estoque de verdades” – Millôr Fernandes.
A mentira é uma condição humana? Muito cedo, percebe-se a capacidade de mentir dos seres humanos. As crianças, com idade em torno de quatro e cinco anos, começam a mentir de maneira convincente. È difícil estudar a mentira de maneira formal, como inclusive a capacidade que temos em atribuir nossas culpas às outras pessoas ou a uma situação. Um dos fatores que interferem no estudo é que as pessoas podem ter interpretações diferentes sobre o mesmo fato. É impossível que a mentira, seja um dia, eliminada nas relações humanas, tanto na política, na diplomacia, na educação, no esporte, nas organizações, na construção da formação das pessoas. Ela persistirá nos ambientes sócias e familiares. A mentira raramente é comparada à verdade e sim se traiu ou não a confiança entre as pessoas. O convívio com a mentira parece ser um processo quase normal. Existem estudos revelando que os que mentem menos, o fazem em 25% do tempo. “fiquei magoado, não por teres mentido, mas por não poder voltar a acreditar-te” - Nietzsche.
Por que mentimos? Mentir traz vantagens? “a mentira deriva, em geral, do medo injustificado” – texto judaico. Vários são os motivos pelo qual mentimos. As formas variam com a fase do desenvolvimento humano e é entendido de maneira diferente pelas áreas do conhecimento. As questões éticas interessam a várias correntes do pensamento. A psicologia explica a mentira pelo mecanismo de defesa; a busca do poder é assunto para a sociologia; a filosofia revela a imperfeição humana; e, a religião relaciona com a compulsão ao pecado. As motivações são diversas: mentimos para evitarmos punição, por insegurança, por ignorar a gravidade dos fatos decorrentes da mentira. Primeiro aprendemos como a mentira funciona, as suas “boas vantagens”, as “boas conseqüências” (Aristóteles Onassis dizia que não ser descoberto numa mentira é o mesmo que dizer a verdade), só depois desenvolvemos a aptidão intelectual para percebermos as importâncias morais e éticas, mas, se não corrigido na infância, tempo certo, irá se transformar em hábito, para alguns extremamente naturais. Crianças e adultos tem diferentes motivações, e mentem sobre coisas diferentes, conforme resposta ao seu universo intelectual. Se crianças tem mais facilidade para mentirem (pensam apenas no resultado imediato), a mentira dos adultos são mais sofisticadas (tem também objetivos futuros). “do bem e do mal, todos tem seus encantos: os santos e os corruptos. Não há coisa na vida inteiramente má. Tu dizes que a verdade produz frutos ... Já viste as flores que a mentira dá? – Mario Quintana.
Como o organismo do mentiroso reage diante da mentira? Mentir causa estresse característico por isso que a sociedade procura criar métodos, como polígrafos, detectores de mentira, “soro da verdade”, observação das expressões faciais, posição dos olhos pode revelar atividade cerebral (criando imagens que quer dizer mentindo; ou, buscando imagens de uma informação real, não mentindo). Os gestos revelam as mentiras ditas com as palavras. O professor atento logo percebe o aluno que está colando na prova ou quem está querendo colar. “é verdade que se mente com a boca; mas a careta que se faz ao mesmo tempo diz, apesar de tudo, a verdade” - Nietzsche.
Mentir é fácil? Mentir é muito fácil; o difícil é sustentar uma mentira. Mentir dá trabalho. Precisamos ter uma memória fantástica para lembrarmos sempre da mesma descrição do fato que originou a mentira. Precisa ela se relacionar em parte com uma verdade. “jamais diga uma mentira que não possa provar” – Millôr. “nenhum mentiroso tem uma memória suficientemente boa para ser um mentiroso de êxito” – Abraham Lincoln.
A mentira tem pernas curtas? Por que mentimos se existe a possibilidade de sermos descobertos? Parece que a mentira é uma situação utilizada pelo homem para evitar, de maneira simples ou complexa, o sofrimento. Como a mentira gera um desgaste enorme; será que vale a pena? Precisa ser por um motivo muito significativo. A mentira não costuma ir muito longe, cedo ou mais tarde, nos encontraremos com a verdade, e as coisas vão se complicando. Mentimos por questões econômicas, profissionais, por vaidade, etc. “a mentira é como uma bola de neve; quanto mais rola, tanto mais aumenta” – Martinho Lutero.
Quanto antes nos encontrarmos com a verdade será melhor? Como a mentira significa “inventar” uma verdade e/ou não “relatar” esta verdade como ela é, portanto, a verdade existe antes da pessoa e a mentira começa com a pessoa. Criar um fato e sustentar o que foi relatado por muito tempo é considerado quase que impossível. Relatar o mesmo fato várias vezes só é possível se ele for real. A verdade é transformadora, é libertadora. A verdade implica em responsabilidade. ”conhecereis a verdade e ela vos libertará” – Evangelho de João Batista.
Quem é o mentiroso? A psiquiatria tem muita dificuldade em estabelecer o esteriótipo do mentiroso; considera ela que cada caso é um caso. É preciso considerar: - os mentirosos fisiológicos, são aqueles que se enquadram na mais fisiológica das mentiras, como o elogio que não corresponde à verdade pelo menos naquele momento (é por exemplo dizer, ainda bem que você chegou quando na realidade foi inadequado; como você está bem, parece que não envelhece, quando na realidade parece que já nasceu velho; não foi ao determinado evento pois já tinha um compromisso marcado anteriormente; é também mentir para não atender uma pessoa, um telefonema, alegando estar ocupado, no banho, numa reunião) como o outro também é um mentiroso fisiológico finge em acreditar. Este tipo de mentiroso não tem o interesse em prejudicar, as vezes até de ajudar, fazendo referências aos gestos, aspectos físicos, desempenho, roupa, para melhorar a autoestima, é a mentira positiva; a negativa é quando desejamos provocar uma insatisfação na outra pessoa. – os mentirosos contumazes, são aqueles por razões de personalidade problemática, com dinâmica rica em conflitos e complexos, procuram compor e representar um personagem que ele gostaria de ser; parecem estar sempre atuando, como fazem os artistas.
As mentiras são consideradas estratégias necessárias para os políticos, o governante, quem detêm o poder, os chefetes, bem como os que buscam afeto e reconhecimento constantemente.
Existem condições, por doença, onde a pessoa doente menospreza a verdade, banalizando-a. Transforma, distorce, recria outros fatos e condições em substituição à verdade. Nega a realidade, mas, como não têm a intenção de enganar os outros para obter vantagens, senão enganar a si mesma, não é considerada como mentirosa.
O hábito arraigado de mentir fantasticamente, pode refletir um transtorno de personalidade, chamado de “pseudologia fantástica” que se caracteriza por uma compulsão em fantasiar uma vida fictícia para causar boa impressão e perplexidade nas outras pessoas, pois não toleram a idéia de os outros a considerarem pessoa comum. Necessita ser admirado, cuidado, ter atenção especial, não tolera a sua condição real de existência podendo, algumas vezes, produzir mutilações ou simulação de sintomas para receberem cuidados especiais.
A mentira pode fazer companhia para os portadores de depressão, as pessoas se envolvem com estórias, desculpas, para justificarem a situação, até porque é um estado preconceituosamente que coloca o portador em condições de menos valia; envolve sentimento de culpa, justificativas infundadas, desculpas, arrependimento, até para minimizar o sofrimento das pessoas que estão próximas. Apesar de existir a falta de verdade não caracteriza a pessoa como mentirosa.
Nos Transtornos do Controle dos Impulsos, como na bulimia, na cleptomania, na dependência química, a mentira é utilizada com o objetivo de ocultar um comportamento sabidamente reprovado pela sociedade. A condição o torna mentiroso, pois, teve a intenção em enganar e se fazer um conceito sobre a pessoa diferente do real, mentiu para obter vantagens.
Personalidade Anti Social ou Personalidade Psicopática é quando a pessoa menti, não a mentira banal, utilizando a mentira como ferramenta de trabalho; está tão treinado e habilitado a mentir que o faz com naturalidade, inclusive olho no olho (difícil entre os mentirosos). Ele sabe que está mentindo, não se envergonha do fato, mesmo sabendo que os outros sabem que é mentira, e, mentem sem justificativas ou motivo; diz o que convém. Tem personalidade narcisista, quer ser admirado, quer ser o mais bonito, o mais rico, o mais elegante, o melhor vestido. Tenta adaptar a realidade à sua imaginação, ao seu personagem, pode até se converter no personagem criado pela sua imaginação. “de perto, ninguém é normal” – Caetano Veloso.
Conclusão:
“ninguém acredita em um mentiroso, mesmo quando ele diz a verdade” - Cícero
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
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Querido Tio
ResponderExcluirÉ impressionante o que perdemos de tempo em nossas vidas simplesmente pelo fato de não nos compartilharmos.
Podendo ter a oportunidade de gozar, desfrutar e me enriquecer com tanto conhecimento, permito, a mim mesmo, que a vida me faça tão distante, tão ausente.
Seus textos são magníficos, quando virarão livro?
Saudades.
Nilo J Mingrone
Caro e querido Nilo Jose
ResponderExcluirobrigado por suas palavras, gentís.
Vc sempre foi uma pessoa/sobrinho MUITO amado
bjo carinhoso e quase paterno