sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

M E L A N C O L I A

Que força tem as palavras!
Ao mesmo tempo em que significam tanto, podendo valorizar e até destruir uma pessoa, outras vezes não dizem nada, são só palavras, nada mais do que palavras. Podem ter diferentes interpretações através dos tempos, ou, diferentes interpretações conforme o contexto.
A palavra melancolia deriva do grego e literalmente quer dizer: “bílis negra”. Tem uma interpretação como resposta de um estado humoral, depende das condições bioquímicas/ emocionais (como se fosse possível separá-las).
A psiquiatria define como um estado psíquico de depressão, sem causa específica que se caracteriza pela falta de entusiasmo e predisposição para as atividades em geral. Considera a Depressão Maior como o estado depressivo superior a dois anos, afetando as funções básicas do cotidiano de uma pessoa de forma significativa. Contudo, a melancolia pode ou não estar presente na pessoa que sofre de depressão maior.
Hipócrates o pai da medicina e de todas as profissões na área da saúde, classificou a melancolia como doença. Para ele a saúde ou doença eram consideradas como o equilíbrio ou o desequilíbrio dos humores (hormônios) corporais, com influência astral. Quando o baço secretava a bílis negra, alterando o humor do indivíduo (“escurecendo”), chamava estado de melancolia.
Freud em seus estudos e observações deparou-se que a melancolia tinha um sentimento semelhante ao processo do luto, sem ter acontecido necessariamente uma perda. É conhecido e importante o seu trabalho chamado de Melancolia e Luto onde revela que os sintomas da melancolia e do luto causam o mesmo tipo de sofrimento, e, diferenciam apenas em um aspecto, no luto não temos a perda da auto-estima.
Nos dias atuais a melancolia não é a da uma doença bem vinda devido seus efeitos que causam transtornos de difícil convivência e improdutivos. Sintomas principais da melancolia: tristeza profunda, sem interesse pela vida, inércia, olhar “perdido” no infinito, perda da capacidade em amar. Na prática médica, conceitua-se a melancolia como sinal de grande valor para estabelecer o diagnóstico dos distúrbios mentais. Para o diagnóstico de melancolia é necessário considerar: a falta de prazer nas atividades diárias; desânimo como reação a um estímulo agradável que em geral causaria prazer. Segundo os estudiosos sobre os transtornos do humor, a falta de prazer e o desanimo que caracterizam a melancolia não estão relacionados a um fato real que causaria tristeza natural. É preciso distinguir a tristeza, considerada uma emoção que ocorre na vida de todas as pessoas, do sofrimento oriundo da depressão melancólica. Especialistas enumeram cinco principais tipos de depressão: a melancólica; a atípica; a psicótica; a ocasional; a ansiosa. Normalmente a depressão melancólica é agravada na parte da manhã, com antecipado despertar. Carregando um sentimento de culpa constante sem motivo real. O tratamento é medicamentoso (com antidepressivo) e com psicoterapia. Melancolia é considerada uma psicose.
Nem sempre foi assim. Já no período do Renascimento e do Romantismo, a melancolia era considerada uma doença bem vinda. Considerava-se que ela trazia amadurecimento pessoal e enriquecimento para a alma. Registros revelam que poetas, pintores, personagens de literatura tinham comportamento próximo disso, daí ser entendida como doença bem vinda, pois, permitam os artistas desenvolverem com expressão seus mais profundos sentimentos. Lembro que o ser humano não elabora na alegria.
Disseram:
-Mario Quintana: “a melancolia é a maneira romântica de ficar triste”. -Victor Hugo: “a melancolia é a felicidade de ser triste”. --- -Michelangelo: “a minha alegria é a melancolia”. -Charles Chaplin: “a beleza é, no meu entender, uma onipresença da morte e do encanto, uma risonha melancolia que discernimos em todas as coisas da Natureza e da existência, essa comunhão mística que sente o poeta... algo assim como um raio de sol dourado e poeira que esvoaça, ou como uma rosa caída na sarjeta”. -André Gide: “a melancolia não passa de um entusiasmo que arrefece”. Carlos Heitor Cony: “nostalgia é saudade que vivi, melancolia é saudade do que não vivi”. -Thabata: “a distância aguça o valor da sua presença, e, a melancolia realça a dor da sua ausência”. Parece não haver dúvidas que os românticos, artistas e escritores, revelaram a vida exaltando um sentimentalismo produto da melancolia.
Nem tudo na vida é só bom ou só ruim, depende da utilidade e do resultado das coisas; como elas acontecem na vida de cada um, o que causam, a possibilidade de convivência. É impossível que na vida das pessoas só ocorram coisas boas. O maior desafio entre os humanos está em tirar proveito das coisas ruins (ou não tão boas) que acontecem nas nossas vidas. Caso não conseguirmos tirar proveito da melancolia, o correto é buscar ajuda profissional. Se os românticos e os artistas apreciavam/apreciam e se beneficiavam /beneficiam da melancolia, ela pode representar um problema de saúde, pois, leva perder a capacidade de sentir o prazer da vida, tornando a pessoa negativista, causando sofrimento; observa-se ser muito comum ao nos aproximarmos da velhice e entre os idosos.
Existe uma tendência em considerarmos a melancolia não só como uma doença, mas como um estado de espírito, passageiro. O assunto é tão importante que envolve cientistas médicos, terapeutas do comportamento, filósofos, sociólogos, pesquisadores de outras áreas; o assunto merece grandes reflexões, o tema está aberto. Por que será que algumas pessoas gostariam de dormir o máximo possível? Quando não estamos bem emocionalmente, o que mais gostaríamos de ter, é um sono profundo e duradouro, se possível eterno; e, o que nos causa tristeza e inquietação é o simples acordar deste sono curador. Parece haver uma relação entre o estado de melancolia e o sono; devido nos conduzir a um entorpecimento, a um estado anestésico, de não precisar tomar nenhuma atitude, de não responder responsavelmente à falta de iniciativa; revela-se uma carência de afetos com baixa auto-estima.
É uma doença: Dos tempos modernos? De uma sociedade narcisista? Marcada pela efemeridade das motivações humanas? Decorrente da dor de existir? Devido a renovação constante da tecnologia? Provocada pela falta de motivações, principalmente em função da busca pelo sentido da vida? Onde o importante é ter, sem preocupação com o ser?

4 comentários:

  1. Belissimo texto sobre a Melancolia.
    Aproveito para dar parabéns pelo lançamento do seu livro.
    Um grande abraço.
    Geraldo Barbosa

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  2. Sergio Mingrone disse:
    Caro e querido amigo Geraldo Barbosa,
    parabéns pelo seu trabalho constante e tudo que vc representa para nós
    Bjo amigo,
    vc fáz parte da minha história e te sou grato por isso, meu maior patrimônio

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  3. SERGIO MEU VELHO E QUERIDO AMIGO
    FREUD DIZIA " A MELANCOLIA É A AUSÊNCIA QUE ´
    DOI "
    CERTÍSSIMA FRASE, EXISTIU NO PASSADO, EXISTE INTENSAMENTE NO PRESENTE, E INFELIZMENTE EXISTIRÁ PELO FUTURO TODO.
    PARA OS DA NOSSA FAIXA ETÁRIA, NÃO FOI FÁCIL SUPERA-LA, MAS TÍNHAMOS METAS SABÍAMOS O QUE QUE QUERÍAMOS, PRECISÁVAMOS, E FOMOS BUSCAR, MAS O SER HUMANO ESTÁ SE DEIXANDO LEVAR PELA FALTA DE PERSPECTIVAS, IDEAIS, DANDO ESPAÇO PARA A AUSÊNCIA QUE DÓI
    PARABENS PELO TEMA
    UM BEIJO DA VELHA AMIGA
    EDY







    UM BEIJO DA VELHA AMIGA
    EDY

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  4. Parabéns pelo o post: um verdadeiro "tratado" sobre melancolia. Continue assim!

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