Melancolia, depressão e ansiedade parecem ser doenças que caracterizam a sociedade contemporânea. Marcada pela cultura do narcisismo, onde nos comportamos como objetos do nosso próprio amor e idealizamos um universo a partir de nós mesmos, com uma superestima sobre nossos valores e a vivência prazerosa de nos sentirmos especiais, sem defeitos, perfeitos, simplesmente o máximo. Procuramos, incessantemente, a vida feliz; do bem-estar constante; de satisfações plenas, conseguidas e identificadas por meio do consumo; da beleza/estética; da imagem do ser perfeito; da idolatria ao corpo; do sucesso a qualquer preço; da juventude eterna e da adolescência estendida. É a busca pela onipotência, onde o mundo não existe separado de nós mesmos (é o só olhar para o próprio umbigo), simbolicamente representado pela volta à vida intra-uterina e a relação com a mãe, quando naturalmente somos superestimados e todas as necessidades são prontamente atendidas, não havendo o sentimento de ausência dos nutrientes, do afeto, da segurança e etc. A sociedade narcisista é comparada com o desenvolvimento libidinoso do indivíduo, acredita-se que a estrutura social atual facilita o surgimento das doenças e transtornos de origem narcisista, como a melancolia, a depressão e a ansiedade.
A sociedade em que vivemos é voltada para a vida privada, para as relações e satisfações pessoais, pouco ou nada importando o outro. Como o prazer é determinado pela capacidade de consumo, o que se prioriza é o TER, daí gerando competições desleais, corrupção, ilegalidades, imoralidades e indecência. Os valores são determinados conforme conveniência. De um lado a condição pós-moderna disponibiliza ter tudo que a tecnologia produz; mas a cultura narcisista nos escraviza pela busca do modelo idealizado (a perfeição e a plenitude o tempo todo são impossíveis de serem conquistados). Esta sociedade inventada por nós, (segundo Ferreira Goular “a vida é uma invenção”), só é capaz de propor e facilitar a realização de atos sem mediação e, por serem atos que não conseguem se efetivarem esta impossibilidade se revela sob a forma de melancolia, depressão e ansiedade, gerando todos os sintomas delas decorrentes, o que implica em sofrimento pela própria existência. Essas doenças emergentes tornaram-se fenômenos freqüentes nos dias de hoje, sendo consideradas por alguns autores como reação normal dos tempos atuais, desde que não interfira nas nossas atividades diárias e no nosso desempenho, enfim, sugerem que precisamos aprender a conviver com elas. Devido ao grande número de pessoas acometidas por essas doenças, são consideradas elas o mal do século; lembro a importância de buscar ajuda profissional adequada. Uma em cada seis pessoas é diagnosticada, neste momento, como melancólicas, depressivas e ansiosas; é impossível que as pessoas em alguma fase da vida não experimentem os sintomas delas decorrentes. O problema pode ser considerado de saúde publica.
A sociedade de consumo, pós-modernidade, desvaloriza a cultura do passado e do futuro em função da busca constante da satisfação imediata, das necessidades pessoais e dos próprios desejos. Abandonando a temporalidade humana, a vida passa a ser marcada pelo descartável, daí chamada de Sociedade do Efêmero, onde os valores mudam constantemente conforme interesse pessoal. Interessante! Mal nos identificamos com determinado objeto, este rapidamente torna-se ultrapassado, gerando pessoas que parecem não saberem efetivamente o que querem, pois, a perda do objeto torna-se a perda do próprio ego. Normalmente as pessoas têm dificuldade em lidar com uma perda, neste caso a perda inconsciente de si mesmo, da sua auto-estima. Contudo, ligado à imagem do objeto e sem poder elaborar nossas perdas, nos deparamos com um “buraco” na esfera psíquica, potencializando os estados de melancolia e ansiedade. Tendo dificuldade em estabelecermos laços temporais e até afetivos para nos orientarmos, nos tornamos inseguros e para preenchermos este vazio necessitamos do discurso de quem tem autoridade, de quem pode ser referência, pois, determinarão eles como devemos pensar, agir e sentir e, obtermos valores que poderão dar sentido para nossas vidas. Com quem nos relacionamos, as fontes de nossas informações e formação, passam a ser determinantes na construção de uma identidade ajustada à realidade, contemplando na medida do possível as diferentes necessidades das dimensões (bio-psíco-sócio-existenciais) do ser humano.
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
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