A palavra é de origem grega e significa “o lugar que não existe”.
Na nossa cultura a palavra é utilizada para revelar um lugar, uma forma de vida, um tipo de civilização, uma relação entre as pessoas, um local de trabalho, que seja fantástico. A palavra sugere que esta situação só exista no imaginário dos sonhadores.
Historicamente o termo foi inventado por Thomas More e serviu de título para uma de suas obras, escrita em torno de 1516. More ficou fascinado com as narrações de Américo Vespúcio sobre a extraordinária Ilha de Fernando de Noronha, que ele avistou em 1503. A descrição é de um lugar novo, caracterizado pelo comportamento enlevado por sentimentos puros, contrário ao que efetivamente sempre se viveu. Descreve a existência de um lugar onde as pessoas estavam comprometidas a viverem bem, um procurando atender as necessidades do outro. Esta é a sociedade ideal, perfeitamente agradável, segura.
Utopismo passou a constituir um ideal a ser conquistado, onde num determinado local ou numa determinada situação, podemos criar as condições necessárias para vivermos bem, com tendências de irmos- nos aperfeiçoando na arte de viver, devido tipo de educação e do aprendizado. A condição de utópica,é referida à pessoa que expressa querer ter nascido e vivido num local mais justo do que aonde existimos, ela não é considerada apenas otimista, mas, como alguém desprovida do contato com a realidade, considerando ser impossível vivermos do jeito que gostaríamos de viver.
Não pretendo discutir a utopia de Thomas More que descreve uma sociedade racionalmente organizada; nela é estabelecida a propriedade comum de bens; as casas observam o mesmo padrão; o trabalho é dividido racionalmente, cada um exercendo a sua função em benefício de todos; procura-se fomentar a igualdade, aproximando os diferentes, uns dos outros (tantos regimes tentaram e não conseguiram; pensar nesta possibilidade na juventude é natural, manter esta idéia depois de adulto é uma tolice. Pretendo apresentar a minha utopia.
De certa forma o Cristianismo e o Islamismo, têm uma visão religiosa utópica quando faz referências ao paraíso; de uma vida livre da pobreza, do sofrimento e do pecado; também não sei discutir esse entendimento.
Os pensadores da utopia moderna (política, histórica e econômica), consideram que a paz mundial é uma condição possivelmente inevitável. Questão de sobrevivência.
A minha utopia é que cada um crie a sua possibilidade de viver bem, sem ignorar as circunstâncias. O que depender de mim eu farei, objetivando melhorar o ambiente, a relação com familiares e amigos, a realização no meu trabalho, estar de bem com minha parceira. Sei que não tenho solução para os outros e nem como interferir sistematicamente, com eficiência e eficácia, na organização da sociedade e manutenção da ordem , nem no condomínio que eu moro; vou fazer o que me compete sabedor do prazer que poderei causar com as pessoas que comigo se relacionam.
A busca por uma vida, quase, perfeita é simplesmente imaginável ou um sonho possível de ser realizado?
Victor Hugo dizia que “não há nada como o sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã”.
Em Das Utopias, Mario Quintana revela: “se as coisas são inatingíveis...ora! Não é motivo para não querê-las ... Que tristes os caminhos, se não fora A presença das estrelas!
É célebre o pensamento de Antoine de Saint-Exupéry: “A utopia faz bem ao coração, o essencial é invisível aos olhos”.
O amor pode ser considerado uma utopia, de difícil conquista e mais difícil a manutenção de sua existência, quando acaba a amizade.
Schopenhauer afirma: “o amor é o centro invisível de todos os atos e de todos os fatos”.
Existe uma lenda judaica que materializa a minha utopia: “dois amigos cultivavam o mesmo campo de trigo, trabalhando arduamente a terra, esperando um dia ocorrer um resultado altamente compensador. Muito tempo se passou, com perdas e ganhos, até que um dia chegou a grande colheita, ficaram ricos. Repartiram eufóricos seus ganhos. A partir daí cada um voltou para a sua casa. Isoladamente tiveram um pensamento de felicidade e ação partilhada. Um pensou: sou casado, tenho filhos fortes, saudáveis, produtivos, poderemos caminhar juntos em outras jornadas e quando necessitar eles me suportarão. Mas, meu amigo é só, não terá ninguém para cuidar dele na velhice ou na doença; não tem em quem se apoiar. Certamente vai necessitar mais do dinheiro do que eu. Levantou-se da cama, colocou metade dos seus ganhos e foi levar, com paixão, para o amigo. Ao mesmo tempo o amigo havia pensado: para que preciso de tanto dinheiro? Sou só, não preciso manter ninguém. Meu amigo tem família para criar, seus gastos são maiores do que os meus, portanto, ele vai precisar mais dinheiro do que eu. Levantou-se da cama, pegou metade do seu dinheiro e foi levar, com paixão, para o amigo. No caminho os dois se encontraram, fez-se o espanto e o silêncio, suficiente para entenderem um o gesto do outro. Se abraçaram, se confraternizaram e ficaram sabendo que um poderia contar com o outro caso houvesse necessidade”.
Esta é a minha utopia, procurar sempre, colocar-me no lugar do outro. Minha utopia é a arte de viver o outro, com paixão.
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
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