sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

AS COISAS SÃO ENTENDIDAS À PARTIR DA PRÓPRIA PERSPECTIVA

AS COISAS SÃO ENTENDIDAS À PARTIR DA PRÓPRIA PERSPECTIVA
Amo a Deus ( ou alguém ) por que o necessito , ou , o necessito porque o amo ?
Seguramente o maior sofrimento humano é conseqüência de como lidar com o sentimento de desamparo.
Conscientemente ou não o que tem feito cada pessoa para minimizar o sofrimento?
Freud dizia que inventamos a religião para nos servir de muletas.O medo é o grande responsável pelas motivações religiosas.
Diria eu, humilde mas não timidamente, a melhor terapia é entendermos como somos. O que é meu ( como intervir )e o que é da espécie humana ( como aceitar ; quantas gerações serão necessárias para uma mudança de comportamento ou sensação? ).
Como Freud também acho que a religião limita o potencial humano ( não podemos esquecer que a vida é um processo e o homem é um projeto ). É difícil o convívio entre o conhecimento e a religião ( este é um conflito significativo ). Parece, erroneamente que estes assuntos devam ser tratados em fórum específicos e separadamente. A convivência pode ser harmônica ? Vamos tentar?
Ciência e religião tem um olhar preconceituoso um sobre o outro. Mesmo diante dessa animosidade os dois confessam a mesma origem: o medo ( que dificulta o entendimento ). O medo é propriedade pessoal ou característica da raça humana ? De todos seres vivos ?
Nosso desafio é reavaliar a idéia de Freud sobre religião e, ao mesmo tempo , permitir que ela não iniba a transformação de cada um na construção em ser pessoa (exigida pela vida ) , na direção natural ao crescimento e maior autonomia sobre nós mesmos. Afinal o grande milagre da vida é a vida.
Me incomoda quando diante do sofrimento , de alguma renuncia importante para o próprio prazer ( saudável ) ou qualquer tipo de insatisfação , as pessoas se acomodam referindo ser este estado vontade única e exclusiva de Deus.
Outro ponto comum entre ciência e religião é quando afirmam: quase tudo que fazemos na vida baseia-se simplesmente na fé ( crença, crédito ; convicção da existência de algum fato ou veracidade de alguma asserção ).
Nossas decisões são tomadas e sustentadas pelo que sentimos ou acreditamos. Posteriormente racionalizamos para justificar nossas escolhas e defendermos nosso ponto de vista; quanto mais inseguro, o fazemos com maior veemência.
Como conseqüência temos uma dicotomia para o entendimento e aceitação dos fatos: crença e raciocínio lógico . In medium virtus ( a virtude está no meio ).
Como os sábios devemos exercitar a humildade, sermos confiantes sem sermos arrogantes (um aluno quando cesura um professor não o faz pelo conhecimento e sim pela arrogância que demonstra, pois esta é característica dos inseguros ).Devemos acreditar em valores absolutos, sem rigidez. Devemos sempre buscar o principal: clareza sobre nossa identidade sem julgar os outros ( tarefa difícil ).
Baseamos nossas vidas muito mais no que acreditamos no que efetivamente conhecemos. Hipócrates dizia que “ Efetivamente no mundo existem duas coisas básicas: saber e achar que sabe. A sabedoria consiste em saber em achar que sabe está a ignorância “.
Todos conhecem a afirmação máxima entre humanos, “ uma coisa eu sei, é que nada sei “. Interessante, quanto mais sabemos sobre as coisas mais claro fica que sabemos muito pouco delas e que deveríamos saber mais.
Leitura nos traz conhecimento; reflexão a sabedoria. Um completa o outro.
As idéias humanas nunca expressam totalmente a realidade. A verdade raramente é explicitada. Organizar este quebra-cabeças é complicado, desafiador e fantástico.
Não devemos nos esconder da vida, negando a dádiva da criação. Somos desafiados o tempo todo. O desafio e a necessidade são as mães das grandes realizações. Correr riscos faz parte da essência da vida ( conjunto das funções que resistem à morte ). A vida não é linear. O medo de perder não pode nos tirar o prazer de vencer. Como diz Roberto Carlos e Erasmo na canção: se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi ( a pior derrota é a batalha que não lutamos). Pior do que perder um grande amor é nunca tê-lo tido.
Que pena que para a maioria das pessoas a vida está mais ligada à fé do que ao conhecimento, do que à verdade ; portanto sem emoção e o homem torna-se agente passivo da sua história, determinada por outras forças que não as próprias.
O encontro conosco mesmo ( cada um conhecer a si próprio ) é a mais eficiente e eficaz de todas aventuras. É bom aventurar-se quando a causa é justa , segura e aprazível.
As pessoas só podem compreender as coisas à partir das suas próprias perspectivas, caso contrário não haverá real entendimento das coisas , apenas equívocos . O sofrimento ( a pior das nossas mazelas ) que nos causa dor ( ninguém elabora na alegria ) é o único estado que nos impulsiona para o crescimento, portanto , é preciso entender o processo do sofrimento para tomarmos momentaneamente as decisões possíveis e mais certas, caso contrário todo sofrimento será em vão, não servindo como sinalizador. O real conhecimento não pode eliminar a dor, mas, o tornará mais tolerável, pois, a compreensão não altera os fatos na vida apenas nos ajudam a olhar-los de outra maneira.
É tão importante que libero-me ser repetitivo: “ só podemos entender as coisas à partir da nossa própria perspectiva , ou, para entendermos melhor as coisas é preciso que cada um seja o personagem principal da sua própria história “.

8 comentários:

  1. Querido Sérgio, fico feliz em "ouvi-lo" novamente, começo a me lembrar de sua aula toda segunda de manhã (dificil acreditar que a segunda feira podia ser tao boa). Gostaria de postar um artigo,se me permite, escrito pelo Contardo Caligaris que li alguns tempos atrás. Penso muito em você ao le-lo.

    CORPO E MENTE - Contardo Caligaris
    "No número de dezembro 2005 do "Archive of General Psychiatry" (vol.62, n 12), foi publicada uma pesquisa dirigida por Janice Kiecolt-Glasser, do Institute for Behaviour Medicine Research da Universidade de Ohio, EUA. Seu tema: as interações conjugais negativas e a cicatrização.
    Foram escolhidos 42 casais, entre 22 e 77 anos. Nos braços de todos, maridos e mulheres, foram criadas, oito pequenas feridas, que foram cobertas de maneira a medir as variações de fluidos que o corpo produz para facilitar a cicatrização.
    Depois disso, os casais foram expostos a duas sessões de "conversa". A primeira foi orientada para que fosse uma troca agradável sobre o que cada um queria modificar em seu comportamento para melhorar a vida do casal. A outra foi orientada para que os casais brigassem (temas preferidos: dinheiro e sogros).
    A pesquisa constatou que a cicatrização era sempre mais lenta depois das brigas. Os casais mais briguentos mostraram uma cicatrização 60% das dos outros.
    É provável que os achados, já bem significativos, subestimem o impacto da hostilidade entre marido e mulher, pois se presume que, em casa, as crises dos casais briguentos sejam crônicas e mais viloentas do que sob observação externa.
    Conclusão:se você deve e pode programar uma operação,tente primeiro arrumar sua vida afetiva.
    Conclusão mais genérica:a má qualidadede uma relação e sua desagregração agem nop corpo e são péssimas para a saúde.
    É um ovo de Colombo. Alguém poderia perguntar: por que essa pesquisa, se ela comprova a obviedade que intuitivamente, todos sabemos desde sempre?
    Pois é,pesquisas como essa aparentemente "inúteis",estão mudando,aos poucos,nossa visão de nós mesmos.
    Durante os últimos quatro ou cinco séculos (no mínimo), fomos fundamentalmente dualistas.Ainda hoje vivemos e pensamos como se a mente e o corpo fossem coisas separadas.
    Graças a essa dualismo,nossa ciência se desenvolveu com eficácia e rapidez. Se tivéssemos enxergado as infecções como consequencia de sortilégios ou males do espirito,não teríamos descoberto a existência de bactérias e os antibióticos para matá-las.
    Mas o custo foi grande: uma incapacidade de reconhecer o sujeito como um todo,corpo e mente. Na medicina, admite-se atender com carinho e escutar um pouco as queixas do paciente.Há médicos para reconhecer que o "estresse" faz mal ("tire umas férias"). E há enfermidades para as quais "fatores psicológicos" são reconhecidos como causas possíveis: certos causas de pressão alta,algumas disfunções da tireóide e por ai vai. Mesmo nesses casos, o "psíquico" aparece como um fator que "contribui" à enfermidade e ele é quase sempre genérico (o termo "estresse" quer dizer tudo e nada).
    A medicina não opera quase nunca com o pressuposto de que o "psíquico" seja na verdade, uma parte do "físico".Curioso,pois ele é a experiência de transformações químicas e neurônicas que são impostas pelas circunstâncias da vida e que agem sobre o conjunto da subjetividade (corpo e mente).
    Talvez as recentes pesquisas que descobrem o "obvio" anunciem uma mudança cultural, um novo convívio entre mente e corpo e quem sabe, o fim de seu divórcio.
    Parece que estamos,aos poucos,descobrindo que nossa subjetividade não é dividida entre corpo e mente. Nessa descoberta,aliás, a psicologia deveria ter a tarefa de defenir e diferenciar afetos, emoções e relações com uma sutileza que corresponda à sutileza das tomografias computadorizadas e das análises bioquímicas. Seria bom parar de associar as alterações do cérebro e do corpo, finalmente descritas,como platitudes psicológicas, como o fatídico "estresse". Falando em pesquisas que descobrem o "óbvio",mais uma. No decorrer deste ano, a revista "Psychological Science" publicara uma pesquisa de James A. Coan e outros que foi recentemente resumida na imprensa americana.
    Foram escolhidos 16 casais muito felizes. A mulher de cada casal foi inserida num tubo de ressonância magnética e lhe foi dito que ela receberia uma leve descarga elétrica no tornozelo. As imagens do cérebro mostraram, em todas as mulheres, uma atividade intensa nas regiões envolvidas na expectativa de dor e emoções negativas. Foi suficiente que o marido inserisse a mão no tubo e tocasse sua mulher para que essa atividade cerebral diminuísse drasticamente.
    Conclusão: o toque de uma pessoa querida é curativo e modifica a atividade cerebral. Visto que a sensação de dor física é ligada ao nível de sua antecipação,uma mão amada pode ser considerada um sedativo eficiente.
    Conclusão indireta: a rejeicão total sem contato físico não é só uma punição psíquica, é também uma agressão contra o corpo, se é que faz sentido manter a distinção entre corpo e mente.
    Enfim,uma indicação: viver sem tocar os que a gente ama (por exemplo, criar filhos sem abraços e carinho) significa condená-los a uma dor que não é só psiquica. "

    Um forte abraço do amigo

    Flávio De Grandis

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  2. Caro e querido Flavio, sempre presente de forma objetiva e sincera. Um pensador.Tenho orgulho de vc.
    Saudades. Como está a vida na Australia?
    bjão
    mingrone

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  3. Querido Sérgio quanta alegria em te-lo devolta as nossas vidas, mesmo sendo através de um blog, saiba que tudo o que vc ensinou aos seus alunos esta guardado no meu coração, cada palavrinha de carinho ou puxão de orelha, sempre tenho elas comigo, espero que esteja bem...
    Abraços

    VIVIANE PAIVA

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  4. Cara e querida Viviane
    vc é especial
    te amo
    sergio

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  5. Querido e Amado Professor e Mestre , muito rever seus escritos , seus pensamentos, suas reflexões, realmente nos apegamos a muletas em nossas vidas através de religião e Deus deve ser o nosso centro, e não a religião.
    Professor gostaria de saber sobre o projeto de Fisio Social.
    Abraço
    saudades

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  6. É sempre bom passar por aqui e ler estes textos maravilhosos que nos ensinam e nos faz refletirmos!
    A cada dia que passa te admiro mais!

    Amo você!

    Beijos saudosos!

    Gabi Galvão.

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Olá Professor....Sou seu aluno do 1ºA Fisio..Uninove..
    Procurei e achei o livro "Cientificação do Amor"
    que o sr. nos indicou ontem durante a aula...

    Segue Link do site:

    http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?isbn=8588759020&sid=2181671961134545276212818


    Abraço!!!
    Rafael Betineli

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