Para entendermos este contexto há necessidade de considerarmos:
1) O homem é um projeto que nunca estará pronto. É um ser em construção, vai se remodelando conforme a sua história e acontecimentos que ocorrem na sua vida; em busca constante da sua identidade. Diferente dos outros animais que tem sua identidade manifestada cedo, precisando de muito pouco aprendizado para serem independentes, adultos e prontos para enfrentarem a vida.
2) O ser humano é produto da carga genética recebida e das circunstâncias marcadas pelas ocorrências em sua vida, vivendo numa dinâmica psicossomática, sofrendo significativas influências da cultura, da família, da religião, da política e economia do pais, da profissão e local de trabalho, dos grupos sociais, das amizades, etc... . Para tornar-se independente(alguns nem conseguem) demanda tempo, aprendizado e sofrimento.
3) Somos questionadores, carregamos uma carga expressiva de crises existenciais, lembro o que referia Confúcio: “ não sei porque o ser humano traz tantas inquietações para si mesmo; para os outros animais estar vivo é o bastante, não questionam os porquês “ .
4) Nossa vida precisa ter um sentido e somos nós que devemos dar um sentido para nossas vidas, o que implica em responsabilidade ( os outros animais são identificados pelos seus instintos ). É justamente na necessidade e busca desse sentido que nasce a angústia.
5) As perguntas que surgem na infância ( por que ? ) , na adolescência ( quem eu quero ser ? ), na fase adulta ( como quero e posso existir ? ), são condições suficientes para o surgimento e existência desses transtornos que nos impõem sofrimento. Quando somos crianças, devido segurança que acreditamos existir nos nossos pais, o sofrimento da angústia é pequeno ou inexistente. Os adolescentes partilham com os amigos próximos os seus desconfortos e distraem-se com a descoberta do afeto, da amizade(que juram que serão eterna), do amor, do sexo. Já adultos descobrimos que teremos que contar conosco mesmo, gerando considerável sofrimento. Na maioria das vezes vamos tentar buscar as respostas fora de nós mesmos e, na busca de soluções ( as vezes até simples ) podemos nos encontrar com outros problemas ( até maiores ).
6) A angústia nos convida a um novo nascimento, é necessário que esta fase seja sucedida e amenizada, surge neste processo a insegurança caracterizada pela sensação inicial da falta de capacidade em conseguirmos ,e, o desconhecimento do novo ( será o mais certo? Como deve ser vivido ?). Como conseqüência surge o maior vilão da tranqüilidade e do prazer humano, o medo ( o pânico ) na remodelação exigida no processo da vida.
7) Erich Froom: “ a vida é um processo constante de novos nascimentos “ . O nascimento de um bebê é um sismo, marcado de um lado pela condição do ser humano ter sido gerado e se desenvolvido na presença dos principais elementos necessários para a vida ( quando no ventre materno não nos falta nada, como: ar, alimento, segurança, proteção, afeto, cuidados, existe uma única palavra mãefilho ) e do outro lado que após o nascimento ( a ruptura do cordão umbilical com a separação da mãe do filho ), a identidade do ser humano será construída na ausência dos elementos essenciais para a vida. Nasce junto com o bebê ( como em todo novo nascimento ) a angústia ( sofrimento e opressão pela sensação de morte por asfixia, pela falta de ar ) seguida da ansiedade ( medo do futuro ), pois à partir de agora este novo ser deverá realizar atos de si para si ( como a respiração, o primeiro ato voluntário que realizamos para atender nossas necessidades ) e o que deveremos fazer, que estratégias corporais deverão ser utilizadas, para conseguirmos os elementos que necessitamos ,pois, não estão mais naturalmente e o tempo todo disponíveis.
8) O registro da ansiedade ( marca indestrutível nas nossas vidas ) no decorrer da nossa existência será sempre com manifestação de medo e das alterações orgânicas decorrentes, principalmente as cardio-respiro-circulatórias. Iremos repetir este fenômeno, natural e existente em todas as pessoas, várias vezes em nossas vidas, permitindo-nos afirmar que a vida pressupões ansiedade , por conseqüência o sofrimento.
9) O homem (este ser que só existe em relação) na maioria das vezes, devido a angústia e a ansiedade, vive mal consigo mesmo, com os outros e com as coisas do mundo.. “ Ninguém vive bem, vive-se “ Clarice Lispector ( Coração Valente ).
10) Angústia, palavra que em grego quer dizer: estrangular, apertar, oprimir. Em latim significa: aperto, opressão, estreiteza, aflição, desgosto, agonia. Apertar fisicamente sugere a sensação de estrangulamento. Angústia é dor física, localiza-se entre o peito e a garganta. É um estado psicológico de inquietação sem motivo concreto que se reflete no corpo; é retrospectivo. As pessoas deprimidas sentem angústia. Não obrigatoriamente, mas, a angústia pode ser um sinalizador de depressão. É ela mais comum nas mulheres, é uma possibilidade associada às causas orgânicas como distúrbios hormonais, climatério, menopausa, à anemia, à depressão.
11) Ansiedade, palavra derivada do latim “ Anxietate “; é entendida como dificuldade de respiração, sufoco com dificuldade de engolir por opressão, inquietação emocional, impaciência. A ansiedade é racional e prospectiva (diferente da angústia). O fator principal da sua existência, é ocasionada pela dificuldade de ter que lidar com o futuro ( medo do futuro, devido insegurança, incerteza, desesperança).
12) A angústia como a ansiedade podem surgir a qualquer momento e na maioria das vezes existem simultaneamente. Podem evoluir para a depressão. É preciso entender que para elas não existe cura. Portanto é fundamental saber das suas existências,conhecê-las e preparar-se convenientemente para enfrentá-las e vencê-las. A ansiedade é uma estratégia do organismo nos obrigando a mobilizarmo-nos , a nos preparamos para os acontecimento futuros; nosso organismo irá produzir adrenalina para ser utilizada no processo toda vez que somos colocados à prova e experimentarmos a sensação natural de apreensão.
13) A angústia e a ansiedade por fazerem parte do nosso cotidiano aparecem e podem ir embora naturalmente. Caso isso não aconteça alguma atitude temos que tomar para minimizar e até eliminarmos o sofrimento decorrente. Não podemos controlar todos eventos que acontecem em nossas vidas, gerando medo e insegurança, contudo o objetivo dos nossos esforços é podermos controlar nossas emoções, o que traz um pouco de tranqüilidade.
14 ) É importante:
- lembrar o significado de vivermos com afirmações positivas ( ficarei bem, vou conseguir, esta fase ruim vai passar ), pois, a grande maioria das nossas preocupações não acontecem e quando acontecem não tem a dimensão por nós projetadas. A mente é cruel e alimenta os pensamentos negativos, precisamos intervir e mudar o padrão do pensamento. Beeche diz: “ todo amanhã tem 2 ( duas ) alças. Podemos segura-lo com a alça da ansiedade ou com a alça da fé “;
- saber que a reeducação da atividade respiratória diminui o grau de angústia e ansiedade. Inspirar pelo nariz ( 1 segundo ), prender a respiração ( 1 segundo ) e soltar o ar pela boca com energia, com o som alto da expiração ( 2 segundos ). Respirando conscientemente e lentamente os músculos relaxam, a mente se tranqüiliza e a circulação melhora;
- considerar que a angústia pode estar associada à causas psicológicas, neuroses e traumas, baixa autoestima, complexos, desajustamentos, ambiente repressor, realizar tarefa que não gosta, desgaste físico e mental. Devemos procurar para saber o que é preciso ser mudado, se é possível , como deve ser feito e que atitudes deverão ser tomadas. Aceitar o que não pode ser mudado, o que não tem solução já está resolvido;
- conseguir o controle dessas opressões pelo otimismo, com esperança e confiança, sabedor que Deus está no comando das ações e nos deu os meios necessários para a realizarmos o que for necessário, nos habilitando para o que o momento exige. Lembrar das palavras de Davi no Salmo 23 ;
- a realização de atividade física (caminhada , a pratica de esporte conforme interesse pessoal), a música, a leitura, a arte, o lazer, o convívio social, a oração, o serviço voluntário, o relaxamento, a meditação, como remédios no auxilio do tratamento;
- procurar a ajuda médica: quando os sintomas permanecerem por mais de duas semanas, principalmente quando estiverem presentes também os outros sintomas característicos da depressão; e, caso a ansiedade e angústia sejam um fator que limite as ações do dia-a-dia, provocando um sofrimento que nos impossibilita ter um comportamento natural;
- esclarecer que as pessoas muito tímidas, inseguras, com dificuldade de expressar seus sentimentos, estão mais predispostas às sensações ocasionadas pela angústia e ansiedade;
- procurar entender que de maneira consciente ou não, podemos elaborar um estado de angústia , de ansiedade e até fazer um estado semelhante de depressão para justificar nossas falhas ou, como mecanismo de fuga para não enfrentarmos determinadas dificuldades por falta de força emocional e coragem.
Acredito que Deus não nos criou para sofrermos, nem para serem nossas ações inutilizadas pela angústia e ansiedade; sim para vivermos bem, harmonizados, livres para nossas escolhas, sabendo conviver com a insegurança e com o medo. Neste mundo não falta: trabalho para ser executado ( falta emprego devido corrupção ), verdades para serem encontradas, projetos para serem desenvolvidos, amizades para serem conquistadas e amor para se ofertado.
As pessoas que conseguiram dar um sentido para suas vidas tiveram seus sofrimentos aliviados. O sofrer na vida não é opção nossa, é oferta natural da vida. Sofrer mais ou sofrer menos sim é escolha exclusivamente nossa.
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
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