A preocupação com a condição humana e o processo da vida, estão sempre presentes nos meus estudos e reflexões. Gosto de procurar entender o homem (este ser fantástico, misterioso, criativo, controvertido) e suas relações. A expressão inveja sempre me chamou atenção e quis saber: o que é? O que a caracteriza? É um sentimento humano? Como lidar com ele? É só ruim? Como se revela nas diferentes fases?
A palavra inveja tem sua origem latina em “invedere” que significa “não ver”. Estranho! Com o passar do tempo a definição desta palavra foi perdendo o sentido e hoje está ligada principalmente à cobiça.
Inveja é um sentimento existente em todas as pessoas (73% dos brasileiros admitem ter sentido inveja em algum momento; 27% mentem). Não é necessariamente só ruim. Manifesta-se de formas diferentes conforme a situação e fases da vida. Provavelmente, o mais comum é pensarmos no sentimento de aversão ao que o outro tem e a própria pessoa não tem, como: qualidades físicas e intelectuais, condições emocionais e sociais, tipo de desempenho e tamanho do poder, da situação financeira e como desfrutar a vida.
Estudos revelam a existência de vários tipos de inveja, procurei resumir em dois; um deles chamo de inveja produtiva, pois, gera vocação, serve como exemplo, é um modelo do qual queremos nos aproximar, não necessária e exatamente de ter e ser igual. A outra chamei de inveja destrutiva, pois, o que a caracteriza é a vontade de que o outro não tenha posses ou qualidades, que não seja bem sucedido; e, se o for e tiver, gostaríamos que os perdesse e se fosse possível a tiraríamos (meu pai dizia que a alegria de um “desgraçado” é ver o outro mais “desgraçado” ainda). Neste caso o sentimento de inveja é gerado pela soberba e o egocentrismo, em querer sempre ser maior e melhor do que os outros, pois, no caso contrário sofre muito.
As pessoas disputam riquezas, status social e poder. Aqueles que possuem um ou mais desses atributos, são mais expostas ao sentimento de inveja dos outros, daqueles que não possuem esses atributos e gostariam de ter.
Há registros históricos referentes ao sentimento de inveja devido existir além das limitações da espécie, as pessoais (perenes ou circunstanciais). Portanto, a conquista por parte de alguns sempre originaram um desconfortável sentimento nos outros, impondo um sofrimento em diferentes graus conforme compreensão e aceitação dos fatos. Jorge Amado dizia que existe um pecado que a sociedade jamais perdoa, é o pecado do sucesso.
Confesso que é motivo de inveja quando vejo um homem e uma mulher envelhecerem de mãos dadas. Gostaria de viver uma situação semelhante, contudo, sem desejar que outros não vivessem este feliz evento.
Devemos buscar, incessantemente, superarmos os sentimentos destrutivos em nossas vidas; sua presença é altamente nociva: é tomarmos veneno querendo que o outro morra. Precisamos desenvolver os meios para que nossa personalidade se torne forte, marcante, expressiva, consciente, realista, atuando em nosso favor (o órgão e situação que não trabalha ao nosso favor, trabalha contra); a vida não é igual à todas as pessoas, nem somos maior ou menor, nem melhor ou pior do que as outras pessoas, somos diferentes; podendo parecer maiores e melhores em alguns aspectos e menores e piores em outros aspectos; a perfeição não está presente entre os mortais. Precisamos exercitar a aceitação das nossas limitações, entendermos o máximo que as circunstâncias nos permitiram fazer e chegar ao que se refere: estilo de vida, ascensão profissional, obtenção de reconhecimento e acumular bens e riqueza. É fundamental sofrer o mínimo possível, nos libertando das comparações, nos contentando com o que temos e somos, sermos gratos até pelas pequenas conquistas, mais importante do que nos lamentarmos pelo que não temos e nem somos, é valorizar o que conquistamos considerando todas as dificuldades.
Considerações/ reflexões: - desde criança escuto uma expressão: “verde de inveja” ; - Shakespeare, em Otelo (vale a pena assistir o filme) usa a expressão “monstro de olhos esverdeados”, por que esta relação com a cor verde? - a inveja no cristianismo é considerada como pecado capital, porque é grave e dá origem aos outros pecados; - em Provérbio 14.30 “A paz de espírito dá saúde ao corpo, mas a inveja destrói como câncer”; - “ a cada bela impressão que causamos, conquistamos um inimigo. Para ser popular é indispensável ser medíocre”- Oscar Wilde; - “ é natural destruir o que não se pode possuir, negar o que não se compreende, insultar o que se inveja”- Honoré de Balzac; -“evitamos a inveja se guardamos as alegrias para nós próprios” - Sêneca; - “é mais fácil ter ciúmes de um amigo feliz do que ser generoso para um amigo que esteja em desgraça” - Alberto Moravia; - “inveja-se a riqueza, mas não o trabalho com que ela se granjeia”- Marquês de Maricá
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Caro Sérgio,
ResponderExcluirCom a morte recente do cineasta Anselmo Duarte,a mídia fez uma retrospectiva da vida dele,lembrando a conquista da Palma de Ouro do Festival de Cannes, com o filme O Pagador de Promessas (1962), que naquele momento da vida brasileira,provocou inveja nos atores e diretores engajados no "Cinema Novo",corrente cinematografica à qual Duarte não estava ligado.Concorreu independente do grupo majoritário e ganhou. Para os invejosos,uma conquista dessa importância é insuportável. Imagino o quanto sofreram por cobiçarem o que era de outrem.