domingo, 14 de março de 2010

DÚVIDA

Palavra derivada do latim “dubitare”.
Significa um estado mental ou emocional que nos coloca entre duas possibilidades: acreditar (aceitar) ou não acreditar (não aceitar). Esse estado dúbio de possibilidades gera a incerteza, presente constantemente no nosso dia-a-dia. Desconfiar dos fatos é ocorrência natural nas nossas vidas, soma-se a isso a certeza que prudentemente devemos ter, de não termos certeza de nada. Acreditarmos incondicionalmente nas pessoas e nos relatos dos fatos, não é conveniente. “A dúvida é o principio da sabedoria” – Aristóteles.
Não precisamos duvidar de tudo, apenas por querer revelar-se pessoa esperta que não se permite enganar, ou, para não ter a sensação de parecer inocente diante dos outros (o “bobinho” que em tudo acredita). “Que seja doce a dúvida a quem a verdade pode fazer mal” - Michelangelo
Entendendo sobre a dificuldade de termos certeza da afirmação que mobiliza as pessoas. Que a asserção de uma teoria ou conceito emitido pode ter a influencia de motivos nem sempre claros, que buscam permitir que as pessoas acreditem no que antecipadamente se concebeu, ou de estabelecermos conceitos desprovidos de conhecimentos mais próximos da realidade, nestes casos o exercício da dúvida é saudável. “Creia nos que buscam a verdade. Duvide dos que a encontraram” – André Gide.
As pessoas mentem por interesses pessoais e faltam com a verdade por falta de informações adequadas, por falta de melhores conhecimentos, e, por emitirem opiniões considerando apenas a sua maneira de pensar, agir e sentir as coisas. É difícil acreditarmos na verdade absoluta, em sua totalidade. Quantos conceitos e teorias foram revelados e praticados pelos homens movidos pela certeza consciente, e que, com o passar do tempo, através de novos conhecimentos devido instrumentos mais modernos para medidas e avaliações, mostrou-se ao mundo como mentira, como um equívoco. A vida é como a ciência, marcada por verdades transitórias. A terra já foi redonda, matou-se e morreu-se por isso. “Demore na dúvida .... E descubra a sabedoria que insiste em se esconder, na ausência das palavras” – Pe. Fabio Melo.
A verdade é temporal? É circunstancial? É pessoal, customizada? “No fundo, só e sabe que sabemos pouco; com o saber cresce a dúvida” – Goëthe.
A dúvida é uma condição existente nas nossas vidas, por obrigatoriedade e conseqüência da cultura humana, acredito ser devida a pratica constante da mentira ou da falta do real conhecimento. A dúvida deve ser estabelecida naturalmente, isto só é possível quando temos pelo menos uma noção da realidade, caso contrário não há suspeita para originar a dúvida e sim ignorância do fato. Quase sempre uma narrativa do fato está incompleta, incorreta ou com a intenção de nos fazer acreditar no que interessa para uma pessoa, para um grupo social e sistema político. O livre exercício da dúvida é trabalhoso, por ser inquietante nos estimula a busca. Por isso que algumas vezes ignorar é mais cômodo; não há cobrança em busca do conhecimento, elemento fundamental que permitirá nos aproximarmos da verdade. És feliz na ignorância? Para que tornar-te sábio? “A dúvida é a ante-sala do conhecimento” – Provérbio Chinês.
A Metodologia Científica foi construída para uma prática motivada pela dúvida. Para a ciência, mais importante do que “aceitar as teorias existentes”, simplesmente por aceitar, sua função é propor novas experiências para confirmar ou não, determinados procedimentos e validá-los (a busca não pode ser conduzida influenciada pela vontade da confirmação; a não confirmação gera também significativos benefícios). “Aquele que duvida e não investiga torna-se não só infeliz, mas, também injusto” - Pascal.
“A dúvida é a escola da verdade” – Francis Bacon.
Devemos entender a dúvida não somente como um conceito, muito menos como apenas um estado de indignação; não é só um momento de introspecção, é principalmente uma reflexão seduzida pela filosofia, permitindo obter como resposta, o encontro com a verdade, mesmo que relativa, transitória, temporária, e, influenciada pela etnia e pela cultura. “O ignorante afirma, o sábio dúvida, o sensato reflete” – Aristóteles.
A dúvida pode nos levar: ao espanto, ao deslumbramento, ao conformismo, a criarmos ilusões ou nos desiludirmos, ao erro ou ao acerto, a nos mantermos ignorantes ou promovermos o conhecimento, à sabedoria em busca da nossa realização como pessoa. “Crer é muito monótono, a dúvida é apaixonante” – Oscar Wilde.
Acreditar ou duvidar na existência de Deus ou de deuses, na vida após a morte e novas vidas (processo, tipo e forma), sempre fez parte da existência humana. “Uma fé que não dúvida é uma fé morta” – Miguel Unamuro.
Nas diferentes religiões, o ideal colimado é que não existam dúvidas. A dúvida implica em liberdade que implica em responsabilidade. Liberdade, não é a condição que a maioria das religiões procuram promover. A quem interessa a liberdade? As religiões têm um produto a ser vendido, seduzirão as pessoas para comprá-lo, cada uma ao seu modo. “O primeiro pecado da humanidade foi a fé; a primeira virtude foi a dúvida” – Carl Sage.
Cada grupo religioso, caracterizado por suas práticas religiosas, e, representado pelos seguidores de um líder ou de um SER com poderes sobrenaturais, com objetivos peculiares, criam seus dogmas (fatos e realidades que não podem ser colocadas em dúvida, e esta representará um pecado grave); movido pelo medo as pessoas os aceitam sem questioná-los. “De todas as coisas seguras, a mais segura é a dúvida” – Brechet.
Esses dogmas fazem parte dos livros, mesmo que escritos por simples mortais, são considerados sagrados, como a Bíblia, o Torá, o Alcorão, o Rig-Verda, o Evangelho segundo Allan Kardec, etc. Interessante! Mesmo eles revelando-se contraditórios, cada um tem registros da sua maneira, as pessoas acreditam que o livro que ela crê é o verdadeiro e o sagrado. Qual é o verdadeiro? Qual o sagrado? Por que? “Ninguém dúvida tanto como aquele que mais sabe” – Marquês de Maricá. As questões religiosas são visionárias, cada um sabe ou imagina no que acredita e porque acredita; mesmo aqueles em que nada acreditam. Mas, ninguém prova nada. Acredita-se ou não se acredita e pronto; pelo menos temporariamente, podendo haver mudanças de crenças conforme resposta das próprias indagações. Ninguém prova, substancialmente, a existência e a forma de Deus, e, muito menos a sua inexistência. Os indícios e sinais podem ser considerados testemunhas dessa história. “O pensamento só começa com a dúvida” – Roger Martim.
Portanto, a dúvida pode ser explicitamente combatida; em algumas religiões ela é policiada e punida. Espera-se em todas elas a credibilidade dos fiéis praticantes, sem nenhum grau de hesitação. “Na dúvida digam a verdade” – Mark Twan.
Nos países, nos locais de trabalho, nas famílias, onde a gestão é autoritária e totalitária, as praticas são semelhantes às das religiões. O que os comandantes falam é dogma, é uma afirmação que jamais deve ser questionada ou colocada em dúvida; caso contrário é considerado pessoa indesejável para o convívio social, pois, sugere subverter a ordem e dificultar a gestão. “É sem dúvida mais fácil enganar uma multidão do que um só homem” – Heródoto.

2 comentários:

  1. Excelente!!! afinal é a duvida que nos mobiliza.Nancy

    ResponderExcluir
  2. Caro Sérgio:
    Não há dúvida quanto a qualidade da postagem!
    Excelente texto!
    Um grande abraço.
    Geraldo Barbosa

    ResponderExcluir