É a fase intermediária do desenvolvimento humano, marcada pela transição da infância para fase adulta. Tem como características principais as alterações: físicas, mentais e sociais. Nesta fase ocorre o processo de distanciamento do comportamento, da proteção e dos privilégios da infância, condições necessárias para o bom desenvolvimento de uma pessoa; e, concomitantemente, inicia-se o processo de aquisição das competências que nos capacite a assumirmos os deveres e papeis de adulto.
Lembro que na infância passei grande parte dela no colo da minha mãe, mesmo já grandinho. No final da adolescência, passei grande parte da minha juventude com algumas futuras mães sentadas no meu colo, mesmo ainda não adulto.
Adolescência é o mesmo que juventude?
Ás vezes são palavras usadas como sinônimos. Não significa a mesma coisa, o mesmo processo, o mesmo período. Existem literaturas que classificam a adolescência no período de 11 aos 21 anos. A ONU e a OMS, consideram que juventude é a fase compreendida entre os 15 e 24 anos de idade. Contudo, está aberta a classificação por idade, conforme considerações nos diferentes países com suas diferentes culturas. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece a faixa etária para o adolescente entre 12 e 18 anos. Outras literaturas consideram que dos 18 aos 29 anos, é considerada “fase inicial do adulto”, sobrepondo-se à juventude. Conclui-se que a juventude (processo específico de amadurecimento) é um período da adolescência (processo maior com transformações constantes). A possibilidade dos seres humanos se organizarem para um entendimento comum, parece decididamente não ser possível neste mundo, pelo menos neste século. É importante sabermos que a adolescência é um termo utilizado sugerindo o processo de desenvolvimento bio-psico-social do ser humano. A adolescência não é marcada pelo final do desenvolvimento biológico e sim do sócio-cultural, por isso que a maior idade é considerada aos 18 anos, marcando o final desse desenvolvimento.
Puberdade é o mesmo que adolescência? A puberdade também não é a mesma coisa que adolescência, e, sim um período caracterizado por mudanças fisiológicas importantes. Como: o surgimento dos pelos pubianos, o crescimento dos testículos e desenvolvimento das mamas. Na puberdade o corpo do adolescente desenvolve-se física e mentalmente, tornando-se possível a possibilidade da gravidez. O período de puberdade, dentro da adolescência, varia entre os sexos, nas meninas ocorre dos 9 aos 13 anos, e, nos meninos entre 10 e 14 anos, conforme o clima da região; nos locais mais quentes o processo inicia-se mais cedo. A puberdade altera o estado emocional do adolescente e também o seu comportamento. É caracterizada: por mudanças físicas e psicológicas; por alterações hormonais despertando a sensibilidade sexual, já interferindo no desejo sexual; por isso é que nesta fase a maioria dos adolescentes, iniciam a prática sexual.
Portanto, na fase chamada de adolescência, ocorrem duas fases demarcando o início e final do processo: a puberdade e a juventude.
O dia-a-dia da infância nos deslumbrava, e, o mundo parecia ser uma eterna fantasia. Pouco contato com a realidade. Nossa imaginação valia mais do que o conhecimento. Assim saímos da infância para entrarmos na adolescência. Tudo na vida é um processo. Excluindo o acidente, as transformações ocorrem lenta e gradualmente. Não dormimos infantes e acordamos adolescentes. Como não dormimos jovens e acordamos idosos. Ao entramos na fase da adolescência, carregamos um brilho especial no olhar, como de quem vai viver os anos dourados da vida. Ansiosos, estendemos os braços para abraçar as pessoas e agarrar o mundo. A beleza, juventude e o entusiasmo andam próximos, são companheiros. Esta fase é a deliciosa desculpa para justificarmos nossos atos. Explicam os nossos ideais, nossas loucuras, nossa contagiante explosão de vitalidade. Ah! Carregamos sempre um sorriso especial, que maliciosamente guardamos para usarmos na hora conveniente. Este, seguramente, é um pouco da criança que os anos nunca levarão. Vivíamos em função da família, da escola e do que poderíamos fazer juntos com os amigos. A sede do clube da nossa vida eram os quartos de dormir, onde nos confidenciávamos e planejávamos nossas estratégias. Chegamos ao ginásio, depois no colégio e na universidade, carregando na mochila muitas dúvidas, incertezas, sonhos, a saudade de alguns amigos que se foram para outros lugares, e, a magia do coração, dividido entre a esperança e a razão.
Cristiane Galvão diz: ”fui muito feliz na minha infância e isso me garantiu uma adolescência bonita com uma juventude cheia de esperanças”.
“A infância continua. Os brinquedos é que vão mudar” – Carlos Tullio Schibuola.
As meninas registravam os acontecimentos das suas vidas nos diários. Registrei as minhas em contos, crônicas e poesias. As meninas já sonhavam com o príncipe encantado, começavam a formar o “complexo de cinderela”. Eu como os demais meninos pensávamos em descobrir os mistérios do sexo, e, do que eram formadas as meninas, seus peitos, sua boca e seu brinquedinho sexual de abrir e de fechar, que sacanagem, o nosso era de armar, e, armava com a maior facilidade. Que saudades!
Vivi na minha adolescência, uma grande paixão correspondida. Valéria foi estrela principal da minha peça de teatro na Broadway ou do meu filme no cinema de Hollywood. No final da minha juventude, vivi duas grandes paixões. Valéria e Cristina se revezavam na minha vida de emoções. Foram minhas grandes musas, fontes inspiradoras para construção das minhas poesias. Sou testemunha que é possível vivermos dois amores, com os mesmos interesses, ao mesmo tempo. O fundamental era saber lidar com eles e que direção seguir. Até chegar o dia em que precisaria sacrificar uma para a outra viver em plenitude. Era com a Valéria que iria viver a vida, prazerosamente. Cristina recusava-se morrer nos meus pensamentos. Depois aprendi a viver com o sentimento agradável que o pensar e escrever para ela, em mim produziu um dia. Valeria era tudo que eu queria ter. Cristina representava as coisas que não eram possíveis. Cristina sabia da existência da Valéria, mas, esta nunca soube da existência da outra. Já casados, fomos ao casamento da Cristina, e, a Valéria fez um único comentário: “vocês já se gostaram, pois, se olharam de forma diferente”. O olhar, como o gesto, são reveladores. Mais do que pensar, as mulheres “cismam” e raramente se enganam.
Deize havia se mudado da minha rua, sua presença ficou esquecida na confusão da memória do tempo. Teve representação importante na construção da minha identidade, foi o despertar pelo interesse pelo sexo oposto, me estimulou na formação da minha sexualidade. Com a Valeria deu-se a descoberta e realização dos principais fatos da minha vida. Quando adolescentes nos demos ás mãos, só a larguei no dia do seu sepultamento. Ela morreu como queria, não pela doença e tipo de morte, mas, de mãos dadas e eu contando histórias que eram sua grande descontração; após sete meses de luta contra um câncer de esôfago. De mãos dadas inventamos nossas vidas, construímos nossas possibilidades e registramos nossas realizações em forma de pessoas conscientemente realizadas, com a formação de uma “linda” família. Fomos muito felizes, o que me fez acreditar que era dado ao ser humano apenas à oportunidade de viver uma única história de amor na vida. Mesmo que muito difícil, em função da existência de histórias construídas e que influenciam significativamente nossos dias, posso acreditar ser possível vivermos mais de uma vez. Um foi testemunha da vida do outro. Nós sempre nos bastávamos. Com ela me realizei como pessoa, homem, pai, amigo, parceiro, amante, viajante. Nosso estilo de vida foi fonte de inspiração de um poeta, de cultura simples e bem formada, que nunca se permitiu agonizar. Formamos uma família organizada (até a sua morte) e emocionalmente estável, como vivi na infância. Segundo Goethe, a vida é a infância da imortalidade. Minha angústia, referente aos meus filhos, mesmo adolescentes, era produto da reflexão de Augusto Cury: “perder a mãe na infância é perder o solo onde caminhamos. É o último estágio de dor de uma criança”.
O universo tem alma feminina. Elas se esforçaram para me fazerem machista; não conseguiram (normalmente sempre conseguem o que querem). São elas que educam e transformam os homens. Nosso maior aprendizado foi com o sexo feminino (homens e mulheres aprendem a ser homens e mulheres com as mulheres).
Aprendi com elas a importância da atenção, do respeito, do carinho, do elogio na hora certa, de valorizar o feito do outro, em ser educado e gentil, e, da fofoca também (faz bem para a saúde). Foram esses os valores que vivi com minha mãe e irmã, com tias e primas, com as amigas da minha mãe e da minha irmã.
Percebi com clareza que vivia numa família de forma agradável e feliz; era ótimo o convívio dos nossos dias e projeções de outros. Acreditava que esta era a forma normal de viver em todas as famílias. Demorei a entender que não era assim em todas as casas. A principal lição que aprendi foi valorizar o outro em função do que ele representava para nós, não do quanto tinha e nem de quem era. Isto parece ser uma constante em todas as fazes da minha vida. Nada era comum na minha casa, apesar de termos as mesmas coisas que os outros tinham. Nós transformávamos um simples leite com chocolate e um pedaço de bolo em festa. Éramos alegres, recebíamos bem todas as pessoas. De vez em quando, geralmente de domingo na volta do Clube, meu pai aparecia com um imigrante ou migrante em casa para almoçar; pareciam velhos amigos pela facilidade com fluíam as conversas (sentar-se a mesa com alguém e partilhar uma refeição é o procedimento social mais próximo entre as pessoas). Após a saída do convidado, e, não raras vezes meu pai o acompanhava de automóvel até o local mais fácil para “pegar” o transporte público, éramos informados que aquela pessoa encontrava-se perdida, foi procurá-lo para uma informação e acabou sendo convidado a partilhar uma refeição à mesa conosco. Não foi essa pessoa a única que ganhou alguma coisa, neste caso o almoço e a informação; nós também havíamos ganho com a companhia das pessoas que sempre tinha um caso para contar, sobre a sua origem, do motivo de suas andanças e suas considerações sobre a vida, sempre interessantes e sofridas, fato que me estimulou a ser um colecionador de histórias e estudioso do comportamento humano.
Algumas coisas faziam o meu pai feliz: o almoço de domingo com a família; as reuniões com os irmãos, cunhados, sobrinhos, agregados. O vinho e o charuto, o faziam muito feliz. Estas eram para ele o máximo de prazer que a vida poderia oferecer.
A presença do pai tem grande significado segundo Freud: “não me lembro de nenhuma necessidade da infância tão grande quanto á necessidade da proteção de um pai”.
Herdei dele o interesse pelas assinaturas, do jornal “O Estado de São Paulo” e da revista “Seleções”. Os primeiros livros que tivemos para a leitura eram da coleção o ”Clube do Livro”, assinatura de meu irmão, cinco anos mais velho do que eu, e, vinte anos mais inteligente.
Em casa tínhamos uma cultura mediana. Todos, inclusive minha mãe, aprendíamos música, solfejo, piano, harmônica. Mas, o que mais nos alegrava eram os LPs da nossa coleção, tocadas no aparelho Hi-Fi, o mais moderno da época.
Minha casa era o local da rua onde tudo acontecia. Era a nossa sede, onde não só programávamos as atividades como também as realizávamos. Nasci e cresci, me desenvolvi, no meio de gente alegre, feliz, de bem com a vida.
Conseguimos ajuntar na adolescência, o essencial do que havíamos projetados na infância.
”A família é que nem varíola: a gente tem quando criança e fica marcado o resto da vida” – Jean Paul Sartre.
Os bailinhos aconteciam regularmente, era a forma que tínhamos para nos encontrarmos e celebrarmos os encontros. Os formandos do ginásio e colégio organizavam os bailes para arrecadar dinheiro, chamados de bailes de pré-formatura; o local era normalmente uma garagem, espaço que os pais cediam. Poderia ser no salão de festas de uma casa, ou na sala da casa que transformávamos em salão. Os LPs eram escolhidos, todos ofereciam os que eram considerados melhores para dançarmos, e, sempre alguém se oferecia para funcionar como D.J.,este dançava também. Bebíamos “Cuba Libre” e “Hi-Fi”. Dizíamos que o dinheiro arrecadado seria para ajudar nas despesas do grande e esperado Baile de Formatura, normalmente no Clube Pinheiros ou no Salão Nobre do Aeroporto. Os jovens vestidos com o tradicional smoking, as meninas de vestido longo, com luvas e deliciosamente bonitas.
Parceiros nos bailes eram as amigas ou a amiga das amigas. O mundo era uma província. Quem não fosse seu primo, era primo do seu primo. O comportamento exigia respeito, éramos vigiados. No meio do salão com outras pessoas dançando em volta, experimentaríamos o máximo de prazer (em função da cultura conservadora e medo das conseqüências do sexo), dançar de rosto colado; o que permitia um discreto roçar das coxas; mais audacioso era colar o rosto, o aroma era de Miss France e o cheiro do laquê para fixar o cabelo; sentir as coxas delas no meio das nossa coxas, era glorioso. Este motivo nos vestia de orgulho e tínhamos o prazer de contar para os amigos do grupo. Constrangedor era apenas o que fazer quando a música parava de tocar e tínhamos que desfazer o par, com o circo armado pela conseqüência da genitália se assanhar com este ato libidinoso, que despejava na cueca o troféu deste encontro delimitado. A conseqüência era pinto duro e a cueca melada. Era muito bom. Que saudades! Não da cueca melada, mas, do pinto duro. Assim é a vida, as melhores coisas acontecem em épocas não coincidentes com a possibilidade e o fato. Tínhamos forças suficientes para rompermos orifícios, o mastro suportava até uma toalha de banho molhada, mas, não tínhamos a facilidade para exercitá-lo na pratica do sexo. Hoje temos tudo, mas, infelizmente somos limitados pela dificuldade do mastro elevar-se e manter-se em pé. Ao meio pau é sinal de dificuldade para a ação. Não melamos mais a cueca; agora as deixamos impregnadas de urina, devido hiperplasia prostática. Nesta época, os bailes eram as deliciosas estratégias para dois corpos poderem ao máximo se aproximarem.
Diferente das inúmeras possibilidades e permissividade dos jovens hoje para a prática do sexo, a minha geração tinha que esperar muitos anos para fazer amor; o sexo fazia parte da relação mais importante entre duas pessoas, prevalecia o ato de amar. Tínhamos que esperar muito tempo e investir muito, emocionalmente e financeiramente, sexo só depois do casamento. Então havia apenas duas maneiras para a prática sexual. Uma, o sexo pago e realizado com profissionais; existiam os locais onde contratar os seus serviços. Outra forma era o sexo muito bem pago, envolvendo o casamento. Machado de Assis dizia que Deus na sua infinita bondade, para que o homem pudesse experimentar a felicidade, criou a fé e o amor. O diabo invejoso, para desfazer a possibilidade da felicidade, fez o homem confundir a fé com religião e amor com o casamento.
Acostumamos, com o sentimento e idéia, que o sexo é conseqüência de um precedido e alimentado desejo. Deve ser celebrado. É um evento. Hoje é apenas o atendimento a uma necessidade fisiológica ou social, criando-se entre as meninas o interesse em quantificar os parceiros para suas realizações, movidas por outros interesses além da vontade para atender uma necessidade.
Algumas literaturas e pessoas comuns anunciam que a atual geração, além de terem descoberto os mistérios do sexo, tornaram-no mais simples e permissivo. O que observo é que alguns questionamentos são traduzidos pelas mesmas dúvidas, e, o que existe de fato é uma liberdade acentuada e uma liberação nos interesses e valores.
É difícil falar de sexo, pois, junto com dinheiro e poder, são as coisas em que as pessoas mais mentem. Podemos falar do nosso entendimento e prática sexual, a dos outros depende da cabeça de cada um.
O combustível da vida dos adolescentes é a paixão; sempre estive apaixonado, nunca por artistas. Sempre por pessoas e coisas reais, capazes de corresponderem positivamente à minha paixão. Sempre pude escolher por quem queria estar apaixonado. Não carrego frustrações, só realizações. Mais ainda, tinha o controle do tempo em que deveriam durar essas paixões, elas me serviam de inspiração para os ensaios na formação de um poeta, que como os demais sempre fingi aparentar ser real o que realmente sente. Assim esculpi o meu ideal de perceber e declamar o que de melhor existia nas minhas musas: Deise ( apenas um despertar), Valéria (paixão que começou em vida, na adolescência, e, durou mais de 40 anos, mesmo após a sua morte), Cristina (que traduz as minhas necessidades construídas no meu imaginário). Agora o ensaio do último vôo de uma albatroz ferido.
Tive algumas paixões ocasionais, por poucos momentos, na realização de uma festa, no encontro de colegas ou em um evento, escolhia alguém para sentir um sentimento especial, a outra pessoa saber ou não era um simples detalhe em que nada iria alterar a minha disposição. A capacidade de nos apaixonarmos, de sentirmos amor por algo ou alguém, de querermos bem, é hormonal, é uma característica pessoal. A manutenção dos sentimentos, é que deve ser compartilhada e colaborativa, exigindo a participação do outro envolvido neste maravilhoso processo. Antes de conhecer a obra de Michel Odent, já vivia a “Cientificação do Amor”. Leonardo Felice Buscaglia foi o grande mestre na arte de amar. Conservo até hoje esta característica, entendo que para a maioria das pessoas não é possível escolher a quem se vai amar, simplesmente se aceita ou não.
Na minha rua moravam algumas mulheres interessantes. Mas, o que prevalece na escolha do homem, mais do que a beleza física é o jeito. Construímos um ideal de beleza e procuramos este modelo. Havia uma menina que preenchia todos os quesitos para despertar o meu interesse para uma relação de homem e mulher, sem enumerá-los e qualificá-los, fiz o pedido formal para a época e fui falar com a mãe dela. Tinha eu 17 anos, ela apenas 14; fui quase um pedófilo.
A paixão foi-se transformando em amor e este se fortalecendo com o tempo. A paixão é sentimento, dolorido e ansioso, produto de reações bio-psicológicas, com ação bioquímica. O amor é um sentimento que muda com tempo, em intensidade e forma, mas, se persistir, sempre será amor. Éramos amantes e amoráveis. Tivemos dois filhos, principal razão e sentido para a minha vida; cuidar deles e dos meus alunos é a vocação principal para manter-me vivo. Valéria e eu construímos a nossa família, influenciados pelos sonhos idealizados num período de dez anos, o tempo do nosso namoro. Sonhamos (sonhos possíveis de serem realizados) e realizamos nossos sonhos. Trabalhamos intensamente, ela professora na rede municipal de educação e a principal executiva em benefício da família. Vivermos bem era o nosso destino; dedicamo-nos muito para essa conquista. Atender as necessidades das pessoas que compunham a nossa família e a grande família, era o que nos movia e conferia o sentido que dávamos para as nossas vidas, procurando influenciar positivamente a vida dos outros.
Em conversa com os alunos, dizia que quando era jovem, tinha dois grandes desejos e que iria perseguir conscientemente a possibilidade de realizá-los. O primeiro desejo era poder encontrar uma mulher para amar (considero que na relação homem e mulher é o homem quem ama, a mulher é amada; e, será uma parceira maravilhosa, coisas que só as mulheres sabem fazer, se reconhecidamente valorizadas); alguém para chamar de querida, de fazê-la sentir todos os meus afetos, de ser a mãe dos meus filhos e que eu cuidaria com alegria, prazer e incessantemente. O segundo desejo era escolher uma profissão onde me sentisse útil (necessário para a sociedade), feliz para trabalhar bastante, e, ganhar dinheiro suficiente para manter a minha família e permitir a realização de algumas vontades e necessidades, inclusive experimentando prazeres que fortaleceriam a nossa união e a certeza de estarmos vivendo uma boa vida (passeios, bons restaurantes, cinema, teatro, shows, viagens, sítio, apartamento na praia, carro novo, reuniões com os parentes, boa educação para os filhos, boas roupas,etc.).
No dia do seu sepultamento, agradeci às pessoas pelas suas presenças, e, proferi palavras de agradecimento a Deus pela oportunidade que me proporcionou de ter conhecido, convivido e formado uma família com aquela com quem vivi uma história de amor. Devido sua morte e com os filhos ainda adolescentes, assumi a função de pai e mãe. Pude perceber a diferença de sentimentos que existe na função de cada um; até então tinha sido apenas o provedor, agora seria também o cuidador. Na vida, nada se compara ao amor de mãe, até isso minha esposa me possibilitou viver, o mais sublime de todos os amores. E mais prejudicial também, pois,não permite os filhos prepararem-se convenientemente para a vida (que implica em sofrimento); protegemos, prejudicialmente, os nossos filhos. Há 15 anos exerço uma dupla função.
O sucesso na nossa relação foi conseqüência da vontade e dedicação para que desse certo, somado à confiança. Carinho, atenção, respeito, tesão (no sentido amplo), surgiam naturalmente.
A adolescência (puberdade e juventude) é marcada pelas descobertas e pelas conseqüências das experiências. Este tempo foi marcado pela iniciação: do namoro, à leitura, à música e formação do gosto musical, ao reconhecimento da atração, a disposição para o sexo, a forma de sermos nas relações sociais para nos mantermos no grupo e sua importância, ao distanciamento do convívio familiar, etc.
Pertencia, por interesse em conhecer outras pessoas e interesses em experimentar outras formas de vida, a vários grupos. Algumas pessoas se iniciavam no caminho das drogas. Preferia trocar de grupo do que experimentar a droga para fazer parte do grupo; nunca tive curiosidade de saber sobre o sabor e efeitos. A minha alegria, a vontade de dar certo, de conhecer pessoas, coisas e o mundo, me sustentavam e bastavam.
O grupo era formado de pequenos grupos, estes eram organizados conforme o interesse e afinidades; havia pessoas com as quais jogava futebol, outras para ir ao baile, estudar, ir em casa para escutarmos música, ir ao cinema, ir paquerar, assistir televisão em casa. Sempre havia pessoas que poderiam circular por vários grupos, mas, poucas faziam parte de todos os grupos, só os amigos considerados inseparáveis. Havia o amigo predileto para irmos na “zona” e contratarmos o trabalho secular daquelas que chamávamos carinhosamente de “primas”. As prostitutas eram o nosso “desabafo”. Mais gostoso ainda era contar para o grupo como tinha sido a nossa aventura, sempre carregadas de exageros. Gostávamos que as pessoas fizessem uma imagem positiva de nós (nada mudou ainda hoje). A minha primeira experiência sexual foi aos 14 anos, com a “prima“ Mariazinha, no apartamento dela, perto do Largo do Paissandú, que não era mais largo do que o duto vaginal que fui conhecer. Alguém me forneceu o endereço e lá fui eu com um amigo. Ele quis ser o primeiro, eu iria na sopa dele (esta era a expressão de quem ia depois). Com ele houve uma falha técnica, o seu brinquedinho sexual não armou, não gozou. A maior preocupação dele não foi o dinheiro gasto e nem a abrochada, seria a gozação do grupo. Me fez prometer que eu nunca contaria para o grupo. Eu cumpri, não contei para o grupo, contei individualmente (perder a oportunidade causa maior frustração do que o prazer de ter prestigiado o amigo). Ainda bem, não teve sopa. Com ajuda incessante da “prima”, o meu brinquedinho se armou, introduzi no conduto que a vagina precede e depositei os fluidos da minha realização, com seu odor característico, o cheiro do sexo consumado. Como o pagamento foi adiantado, tornei-me a vestir (essa é a pior hora do sexo), fui embora satisfeito por ter cumprido a minha obrigação de homem, que se iniciava naquele homúnculo; mas, preocupado. Ou meu pênis era muito fino ou aquele canal tinha proporções de difícil mensuração. Fosse hoje, seria mais fácil, eu simplesmente dobraria o meu pênis em tantas vezes fosse preciso. Um dia perguntaram para o Vinicius de Moraes, se ele nascesse novamente, quem ele gostaria de ser? Respondeu ele: eu mesmo, só que o pinto um pouco maior. Eu responderia: eu mesmo só que com o pinto um pouco mais grosso para poder enfrentar a Mariazinha em melhores condições. Fiquei conformado ao ter o entendimento que lá era apenas um local para se despejar espermatozóides. Não senti o que mais queria; a resistência natural de uma penetração até a completa realização e a vontade de querer mais. Sexo que não deixa saudades é tão prazeroso e comum como urinar e evacuar. Voltei outras vezes à casa da Mariazinha, para apresentar aos outros iniciantes e realizar o meu descarrego; muito mais devido à vergonha que teria de passar no grupo, por não ter “ido” do que pela vontade. Interessante, adolescente não faz nada só. Até para se masturbar precisa da presença de uma mulher, contida na revista ou no imaginário. Progredi e tornei-me cliente da Regina, uma “prima” mais sofisticada. Parecia que meu pênis havia aumentado de volume, já sentia o contato. Passei a ser informante dos meus amigos e amigos do meu irmão. Regina era um belo exemplar do que diz hoje: modelo-manequim. Certa vez estava na sala de espera do apartamento dela, aguardando para ser atendido, quando chegou um homem mais largo do que comprido, seus pés eram tão grandes que seu físico compunha a forma semelhante de um ” L”. Olhou para mim, depois gritou: “Regina! vamos sair”. Ela disse: ”não posso, tenho que atender um cliente”. Ele respondeu: “deixa que deste eu dou conta”. Olhei para o meu interior e conheci o medo, sensação desagradável provocada por aquele cafetão, e, quando esticou a mão, a parte superior do L foi acrescida de um risco do tamanho do seu pé, parecia um ” C” quadrado, maiúsculo e atarracado. Abri a porta do apartamento, encurtei a distância entre o centro da cidade e a Moóca, fui me refugiar em casa (casa é tão importante que alguns animais carregam nas costas). Se fosse possível queria voltar para o útero da minha mãe. Nunca soube se esse “dar conta”, ele pagaria para ela o trabalho não realizado ou se iria me jogar do alto do apartamento. Dia seguinte mais calmo, fiquei pelado no banheiro, peguei o dinheiro, coloquei no chão, pisei em cima do dinheiro e transei com uma amiga que escolhi, sem ela saber. Depois desse sexo solitário, tomei banho, me vesti, coloquei o dinheiro no bolso e sai para a rua, aliviado e com dinheiro.
Enfim, o sexo é o grande motor das nossas atitudes. Toda energia do ser humano é libidinosa. Algumas realizações foram de sexo consumado e outras de sexo presumido. Um dia, quando nos tornarmos velhos, ele talvez se torne inconveniente, mas, em pleno exercício da energia, é fundamental; é bom demais. Agora, no final dos meus tempos, restam lembranças e boas recordações de um tempo bom, que não volta mais. Meninas. Valeu! Agradeço àquelas que deram, ofertaram, emprestaram, alugaram e me seduziram e se beneficiaram de mim. Mesmo as que me fizerem por um tempo, um pinto de plantão.
Mulher e viajar são as melhores coisas da vida.
O convívio com os amigos do Ginásio, mais do que do Colégio, foi tão marcante que até hoje nos reunimos uma vez por ano. Por ser uma escola freqüentada apenas por pessoas do sexo masculino, chamamos o encontro dos meninos do Colégio Nossa Senhora do Carmo, da Congregação dos Irmãos Maristas. Somos os formandos de 1960. Este ano, comemoramos o Jubileu de Ouro e grandes festividades estão programadas. Interessante, passado tanto tempo, nos transformamos conforme as histórias vividas, mas, ainda conservamos uma essência juvenil. Esses encontros, desprovidos do exercício da vaidade, tornaram-se bem melhores do que os encontros dos colegas da faculdade, normalmente carregados de sentimento de comparações inevitáveis e de inveja, conforme a situação de cada um.
Aos 17 anos fui com um amigo realizar na junta militar o alistamento obrigatório. Aos 18 anos, também com amigos, nos apresentamos no Exército Brasileiro. Por sermos estudantes secundaristas, nos apresentamos no Centro Preparatório de Oficiais da Reserva (CPOR). Escolhi para servir o meu tempo no exército, a gloriosa arma da Cavalaria (se não tiveres a rapidez do raio, o olhar da águia e a coragem do leão, para traz, pois, não és digno de pertencer ao furacão da cavalaria). Porque cavalaria se nunca tinha montado decentemente? O lema da cavalaria me seduziu: “Cavalaria, nem melhor e nem pior do que nenhuma outra arma, apenas diferente”. Esse lema me serviu e tem servido para todas as minhas considerações, realizações e sentenças. Não somos melhores e nem piores do que ninguém, apenas diferentes. Odeio ser comum, mediano; esforço-me, dedico-me, invisto para não sê-lo. Fiquei dois anos como aluno do CPOR, saí como Aspirante a Oficial de Cavalaria em Julho de 1964; ficamos de prontidão em função da revolução de 31 de março de 1964. Normalmente dois anos após a conclusão do Centro Preparatório, éramos chamados para um estágio de dois meses, o Regimento da Cavalaria era em Pirassununga, para recebermos a patente de segundo tenente. Por estar envolvido com o ingresso na faculdade e por não ser obrigatório, eu não realizei este estágio. Foi um tempo importante na minha vida, trago excelentes recordações e importantes aprendizados. Mantenho alguns amigos desta época, como o Jackson Fischer. Outros já faziam parte do grupo dos amigos da escola, como o Claudio da Silva e o Lino Campion. Juntos, escrevemos um capitulo importante na minha história. Azevedo e eu montamos nesta época, no nosso imaginário, um partido político, o PSM, Partido Socialista Militar. Nele as patentes não existiam mais e éramos todos camaradas. Estendeu-se de maneira significativa, surgiam os interessados em conhecer a organização e alguns queriam filiar-se. O difícil foi desfazermos o partido; principalmente pelas proporções que tomavam. Estivemos na Academia Militar de Agulhas Negras (AMAN). Havia uma disputa interna no quartel, entre as diferentes armas, e quem conseguisse ganhar o troféu por três vezes consecutivas, tornava-se possuidor em definitivo da Taça Correia Lima Constava a competição de diferentes modalidades de esportes. A minha turma colaborou na conquista do bicampeonato final, uma vez que nosso tempo de permanência era de dois anos. Na vida só festeja a vitória, quem ganha; não admite perdedores ou só competidores. Era o capitão do time de futebol, a única atividade que não ganhamos, mas, participei de outras competições, como elemento para compor o grupo. Fomos tricampeões, ganhadores em definitivo do troféu. Como campeões festejamos.
“A adolescência é o período da vida em que os jovens se recusam acreditar que um dia virão a ser tão estúpidos como seus pais” – Alex Gabriel Madrigal.
Contudo procurei viver o que diz o provérbio chinês na possibilidade de compor a minha formação como pessoa: “o grande homem é aquele que não perdeu a candura da sua infância”. Chego ao final da minha medida de tempo, com lembranças significativas do início dos meus tempos.
Diz Orson Welles: “lutei para escapar da infância o mais cedo possível. E assim que consegui, voltei correndo para ela”.
A infância é considerada a idade quando se iniciam as interrogações, das coisas simples que os adultos comuns poderão responder. A adolescência é considerada a fase em que buscamos nos afirmar; entretanto, continuamos com indagações; só que agora mais complexas, de difíceis explicações. E, nos acompanharão até a velhice, o tempo considerado do melhor entendimento e de negação de algumas delas.
domingo, 11 de abril de 2010
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Oi Sérgio! Estou de volta e só agora pude atualizar a leitura, sempre interessante, dos seus textos. Concordo com vc, nossas interrogações começam na infância e persistem pela vida toda, quando a gente acha que já sabe as respostas, a vida muda as perguntas. bj
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