É considerado adulto o indivíduo que atingiu a maturidade do desenvolvimento fisiológico, intelectual e emocional. É o indivíduo pronto. Literaturas referem que ocorre aos 21 anos. Aos 18 anos é considerada a maturidade legal, passando o indivíduo a responder criminalmente pelos seus atos.
As dificuldades que começaram na minha adolescência seguiram-se pela fase adulta. Chegam à minha velhice com algumas das mesmas inquietações e sem respostas lógicas para tudo.
Carreguei por mais de 40 anos uma ambição de como lidar com a carreira profissional, com o trabalho, com o dinheiro, com a aposentadoria, com a família, com a alimentação e até com os amores, situações importantes para serem resolvidas e que permitem vivermos bem uma longa vida.
O entendimento das situações vividas no dia-a-dia, como enfrentá-las e o tipo de respostas que devemos obter, estão comprometidos em atender as expectativas, mesmo que pessoais sempre influenciadas pelos outros, de maneira explicita ou não. São elementos característicos da nossa cultura. Permitem ás vezes diálogos acompanhados ou solitários, mas, quase sempre são engessados, nos amarram, nos personalizam com conceitos prontos, praticamente nos impondo condições, de forma generalizada, não considerando o que existe de singular em cada um de nós. Somos induzidos naturalmente a vivermos papeis impostos e termos um comportamento esperado conforme o pensamento e interesses das pessoas que formam a sociedade. Constroem o tipo de vida que devemos levar, querem controlar os nossos sonhos e colocam limites nas suas realizações.
Lembro do meu tempo de aluno, onde os professores nos ensinaram o que quiseram e não o que seria necessário aprender (reproduziam com requinte o que tinham aprendido ou talvez por acharem conveniente, ou, por não saberem mesmo o que seria importante aprendermos), e cobravam com rigor as coisas que nunca viemos usar (lamento que a maioria dos professores repitam os mesmo e desnecessário feito para os seus alunos). Ninguém nos ensinou a vivermos livres e de maneira responsável. Obrigaram-nos aprender lições para as nossas vidas e praticá-las, ignorando completamente os nossos interesses, as nossas vontades, o nosso momento, as nossas limitações e possibilidades. O senso comum estabelece e imprime no nosso interior padrões de pensamentos e tipos de condutas que com o tempo é fundamental descobrirmos suas influências, quase sempre nefastas, para nos recriarmos e nos tornarmos uma nova pessoa.
É fundamental experimentarmos um novo nascimento, valorizando os nossos desejos e não as obrigações; podendo substituirmos, no ato de realizar, o sentimento do “eu tenho” (por obrigação) por “eu quero” (por vontade).
Constatei que não nos é dado á possibilidade de encontrarmos nossas próprias respostas, e, nem o direito de nos expressarmos de maneiras diferentes para a mesma situação. Não consideram as circunstâncias e o nosso histórico. Permito-me mudar de opinião tantas vezes quanto for o meu atual entendimento. Não permito que esperem de mim respostas convencionais e atitudes clichetadas. É a rebeldia em busca do exercício do meu direito.
Ainda não estou convencido sobre a nossa educação, ás vezes mais parece que fomos adestrados, pois, nos forneceram as nossas respostas e nos fizeram treiná-las para serem proferidas na hora certa e de uma forma que determinaram como certa. Fico indignado por terem influenciado minhas convicções mais íntimas e minhas crenças. O que tem de mim mesmo no processo?
Quando era criança me perguntavam se eu gostava mais do meu pai ou da minha mãe. Como se não fosse possível, ter o mesmo sentimento com intensidade e valores diferentes que não permitissem comparações. De quem você gosta mais da sua irmã ou do seu irmão? Sem considerar os porquês. Prefere o preto ou o branco? Não podia escolher o cinza, pois não foi possível escolher alguma cor diferente do indagado; não considera-se as categorias intermediárias. Mais tarde a namorada perguntava se eu gostava mais dela do que dos amigos; tinha que responder o que ela queria ouvir, logicamente ela, como se fosse possível comparar os dois tipos do gostar. A gente vai viajar e logo nos perguntam qual cidade achamos mais bonita, sem considerar as circunstâncias, condições do clima, ocorrência de eventos e tipo de festividade, e, etc. Precisamos responder às perguntas sem buscarmos sempre o real motivo das respostas. Quando me perguntavam qual era a minha religião, sem me consultar, já respondia: católica (a religião oficial do país). Não me perguntavam se eu tinha uma religião ou não. E quando perguntam: Prefere as loiras ou as morenas? (e as ruivas?). As baixas ou as altas? As gordas ou as magras? Este pensar por categorias limitam nossas possibilidades de escolha.
Cheguei à minha velhice com várias perguntas sem repostas ou com algumas respostas que não me convenceram ainda, estou buscando. Passei pela fase adulta com questões abertas e não consegui fechá-las até hoje.
Fui induzido a entender que a fase de adolescente (chamada indevidamente por alguns “engraçadinhos” de aborrecente) um dia chegasse ao fim. Mesmo porque os adolescentes são considerados como um ser incomum. Os adultos acham que a criança é um adulto em miniatura, e, que adolescente é uma fase onde o futuro adulto deve ser entendido como um ser a parte, suas condutas devem ser avaliadas considerando as características reveladas por uma fase denominada de “chata”.
O termo adulto sugere uma pessoa já crescida, pronta, acabada, finalizada, em condições de... Enquanto que adolescente, significa crescente, pessoa em formação, inacabada.
A velhice permite algumas reflexões mais claras e reais. Mais do que uma pratica equivocada, é absurdo considerarmos as pessoas prontas, que homens e mulheres são seres acabados, bem feitos, perfeitos. Somos um projeto que nunca estaremos prontos. A vida é um processo que possibilita as transformações movidas pela vontade. Questões importantes que surgiram na minha adolescência, quando adulto procurei resolvê-las (como complexos, angústias, decepções, ansiedade, transtornos existenciais), entretanto, permaneceram vivas e continuam por toda minha existência e certamente morrei sem nunca tê-las entendido. Algumas feridas que se abriram na adolescência nunca se fecharão.
A leitura, muito mais, do que uma simples distração, sempre foi para mim um convite para a reflexão e possibilidade de aprendizado. No livro “O aprendiz do desejo“, de autoria do Dr. Francisco Daudt da Veiga, editado pela Cia. Das Letras, o autor apresenta o seu trabalho (que indico a leitura), em defesa do nosso direito, sem data marcada, de ser aprendiz da vida. Fala da importância em vivermos com menos pressão do ideal, do produto final perfeito, de estarmos acabados e sermos completos. Estes são modelos que segundo o autor assombram a vida como fantasmas implacáveis e enganosos, como todos os ideais o são, devido que sua imaginada perfeição, que não existe e são impossíveis de serem realizadas.
As metas são importantes por funcionarem como faróis, guiando nossas ações. Bárbaro! Perceba o significado dessa libertação. Se, queremos ser livres é porque não somos. Queremos ser livres do que? E para que?
Nunca seremos um produto final bem acabado, completo, sem nada para ser concluído. Os juízes que julgam os nossos procedimentos; os analistas econômicos, políticos, de esportes; são perfeitos até terem a oportunidade de se revelarem. Quando necessitarem fazer, o que disseram que os outros deveriam ter feitos, revelam-se incapazes. A oposição política quando está no poder, realizam as mesmas práticas que sempre condenaram. A prática de vida do ser humano costuma ser bem diferente do seu discurso.
A sociedade é androcêntrica porque foram os homens que fizeram as leis, e, quem as faz, pensa antes de tudo em proteger-se; seu fórum é de privilégios. Os velhos dão-nos bons conselhos porque já não conseguem mais dar-nos maus exemplos. Os adultos cobram aquilo que não conseguem realizar.
Cobranças, não menos indevidas, nos fazem reféns; impedem de experimentarmos o real destino de todo ser vivo: estar livre e gozar esta liberdade com responsabilidade. Somos responsáveis pelas nossas escolhas.
É comum que as pessoas, as que compõem esta sociedade complexa, patrulhem nossas atitudes enquanto realizam irresponsavelmente as suas. Pessoas cobram responsavelmente os impostos e gastam o dinheiro sem respeito com o que é moral e legal. Quem mais acusa as nossas imperfeições são os imperfeitos.
Com o compromisso pactuado, implicitamente sem percebermos, no atendimento das expectativas dos outros desempenhamos um papel na sociedade com um conteúdo que cada vez mais tem menos da nossa própria vida. Não vivemos para nos agradar e sim para que os outros se agradem dos nossos procedimentos. Tudo que fazemos é para agradar alguém. Vivemos com mais intensidade os valores dos outros. Fazemos grandes sacrifícios para que os outros façam uma imagem positiva de nós mesmos, não importa o preço a ser pago.
Quem eu gostaria de ser? Como gostaria de existir, conforme possibilidades?
Os animais irracionais (termo que não concordo, eles pensam) muito cedo se transformam em adultos; estando prontos para enfrentarem a vida. É diferente dos racionais (que nem sempre pensam) é impossível de um dia sentirem-se prontos para enfrentarem todas as ocorrências e transtornos na vida.
Diferente de hoje, em que os adolescentes podem viver com mais intensidade esta fase, a prolongam com medo de tornarem-se adultos e terem que assumir compromissos nas suas vidas, a minha geração entrou na fase adulta mais cedo, devido cobranças por atitudes mais responsáveis; era o lema: “sejamos jovens uma vez na vida, mas, adultos a vida inteira”. Para alguns amigos esta foi a pior fase das suas vidas, conforme cobranças familiares e culturais, pois a possibilidade de questionamento e de experimentarem fenômenos temporais, foram substituídas por um comportamento adulto, precocemente.
A avaliação era que, pertenciam à categoria dos crescidos (os adultos) apenas as pessoas boas, as normais. À categoria dos crescentes (adolescentes e incompletos), pertenciam as pessoas ruins para a sociedade, porque, delas nada de bom poderia ser esperado.
As conseqüências dessa avaliação e realização produziram transtornos em algumas pessoas que buscavam libertar-se dos sofrimentos ocasionados na adolescência. Se fosse possível gostariam de apagar esta fase.
O que será que fizemos com nossos filhos? O que reproduzirão eles?
Temos sido obrigados a representarmos o que não somos e nem o gostaríamos de ser. Quando será possível sermos quem queremos e podemos ser?
Com um olhar envelhecido e provido da sabedoria em função das experiências vividas, não quero uma vida só com apresentações perfeitas. Pois não permitem erros, me obriga sempre apresentar-me bem, ocasionando:
- estresse conforme atenção por não ter direito aos ensaios,
- ansiedade generalizada,
- medo da avaliação em função do desempenho,
- pânico e tensão emocional,
- dores e insuficiência orgânica.
Será que devo dizer a mim mesmo? Não erre nunca! Acerte sempre! O preço que tive que pagar para uma apresentação satisfatória foi alto. Agora quero uma vida com ensaios, este permite erros e correções. O ensaio é leve.
Seria louvável estabelecermos para o mundo novas convenções para possibilitarmos a construção de novas formas de vivermos. Agora respeitando a aptidão e potencialidades de cada um. E, só por uma justa causa superaríamos as nossas limitações físicas e emocionais. Como isto não é possível. Faço na velhice o desenho da minha maneira de viver. Convido a cada um pensar no seu estilo de viver e levar a vida, desenhando em qualquer tempo a sua própria maneira de existir.
Independente do tempo que nos resta viver, o ideal é que sejamos apenas um aprendiz do desejo.
domingo, 18 de abril de 2010
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