Falar de sentimentos humanos é muito difícil, devido: (1) a dificuldade em entendermos o que efetivamente estamos vivendo; (2) admitirmos; (3) encontrarmos a forma de como conseguiremos com eles conviver.
Escrever sobre ciúme é tão difícil quanto com ele convivermos. É sofrimento, com ou sem motivo. Ciúme é uma inquietação mental, complicada e complexa, física e emocionalmente desgastante. Sempre causado por suspeita ou receio de rivalidade, de competição, de preferências, tanto no amor quanto qualquer outra aspiração.
O ciúme é uma reação mental influenciando todo organismo; complexa e perceptível, que ameaça uma relação entre pessoas, quase sempre provocando uma alteração na qualidade desta relação. Somos colocados em alerta, ansiosos, podendo ocasionar duas sensações: (1) a possibilidade eminente da perda de alguém que nos é valioso, envolvendo no mínimo três pessoas; (2) quando se trata de preferências no relacionamento entre pessoas, no ambiente familiar, no grupo social e no trabalho; sentimos que o tratamento e valorização de alguns são mais significativos do que a forma que somos tratados e a consideração que existe sobre nosso valor e desempenho. No mínimo são três as pessoas envolvidas no processo, - a pessoa que sente o ciúme (o sujeito ativo, conhecido como ciumento); - a pessoa de quem se sente ciúme (o sujeito passivo, o outro da relação); - a pessoa que é o motivo do ciúme (o sujeito motivador). Ciúme é um sentimento universal que parece existir em todos os seres vivos; nos animais de convívio doméstico, como os cães, é facilmente observado. O motivo do ciúme não é obrigatoriamente uma pessoa, podendo ser um objeto de valorização e uso pessoal.
Ciúme é um sentimento natural e significativamente complexo tendo como conseqüências nefastas um conjunto de emoções envolvendo pensamentos e reações físicas influenciando negativamente o comportamento do ser humano, desencadeado por alterações humorais, como: - emocionais: medo, inveja, raiva, tristeza, dor, humilhação, depressão; - pensamentos negativos: comparação com o rival, ressentimento, surgimento da sensação de culpa, preocupação com a própria imagem e dó de si mesmo; - reações físicas: aperto no peito, dores físicas, taquicardia, sudorese, boca seca ou com excesso de saliva, falta de ar; - comportamentais: a busca sem controle das confirmações dos fatos que originaram o motivo do ciúme, questionamento excessivo, ações verbais agressivas podendo chegar à ação de violência.
O ciúme por ser um sentimento natural (alguns têm mais facilidade para administrarem, outros não), tem seu lado positivo e lado negativo, não é só ruim. O lado positivo é proteger o amor; é não considerar o outro como uma conquista definitivamente consagrada, nos colocando na condição de precisarmos conquistá-lo sempre. O lado negativo é quando supera o sentimento de compreensão, de respeito e do amor; prejudicando a relação. O ciúme patológico é uma paranóia, é uma doença, é um distúrbio mental; neste caso, para o ciumento, a fronteira entre o imaginário e a realidade é imprecisa, não é notada; e, ele confunde o que poderia ser no máximo uma dúvida em triste certeza.
Portanto, o ciúme pode ocorrer em qualquer ambiente e em todo tipo de relação. Entre amantes; nas relações familiares; entre amigos; no trabalho; com animal e objeto de estimação.
Mesmo eu não acreditando na força instintiva do ser humano (como ocorre com os outros animais), o ciúme tem características indeléveis como o medo de se perder o amor ou amizade de uma pessoa. Os motivos que nos levam a ter ciúme são reais ou imaginários, como: a sensação de perda do amor e/ou da amizade; não ter a preferência na atenção em qualquer tipo de relação; não desfrutar da exclusividade na utilização do objeto; o entendimento de não ser o preferido. O ciúme pode significar também o sentimento de zelo, de cuidado, pois, caso não sintamos que o “uso” é exclusivo, talvez não tenhamos tanta dedicação. Normalmente é originado pela falta de confiança e segurança, em si próprio e na outra pessoa envolvida. Acredita-se num sentimento leviano de afeto e comprometimento da outra pessoa, e, até na capacidade de sedução e conquista daquele que temos ciúme.
Conceitos populares afirmam que quem ama sente ciúme, e, que sentir um pouco de ciúme é bom para garantir a relação. Que algumas pessoas apesar de verbalmente revelarem que não gostam de ser o motivo de ciúme, mas, intimamente sentem prazer quando a pessoa com quem nos relacionamos revela uma dose controlada de ciúme. Às vezes temos a facilidade de entendermos o ciúme como algo parecido com a inveja, mas, é diferente; o ciúme está relacionado com o principio de propriedade; a inveja com o roubo. Contudo parece que o ciúme revela uma ponta de inveja, mesmo que discreta. Na obra maravilhosa de William Shakespeare, Otelo (o mouro de Veneza); o seu sub-oficial, Iago, devido a inveja do prestígio social e da felicidade de Otelo, induz este a acreditar que o seu oficial Cássio, corteja com a aprovação desta, a sua graciosa esposa Desdêmona. A inveja de Iago (querendo se apropriar do prestígio de Otelo e da sua felicidade) provoca e alimenta o ciúme de Otelo (o ciumento) com relação á Cássio (de quem ele tem ciúmes), envolvendo a sua amada esposa (motivo do ciúme). Devido ciúme incontrolado, Otelo cria no seu imaginário as mais diferentes situações impondo um sofrimento significativo e sem controle; revela nas suas reações que o homem vive numa dinâmica psicossomática (corpo e mente são aspectos diferentes da mesma coisa, chamada ser humano) convulsiona várias vezes, e por fim, mata injustamente Desdêmona e se mata logo em seguida, interrompendo uma vida de realizações e felicidades (assista o filme). Situações estas que confirmam as palavras de Miguel de Cervantes: ”são sempre desatinadas as vinganças por ciúme”. Salomão, com toda a sua sabedoria dizia que o amor é forte como a morte; o ciúme como o túmulo.
O ciumento passa a vida tentando descobrir um segredo que certamente irá destruir a possibilidade dele viver momentos de felicidade.
“O ciúme quando é furioso produz mais crimes do que o interesse e a ambição” (Voltaire).
Fatos nos permitem concluirmos que a ausência total de ciúme pode caracterizar indiferença. Mas, a existência exagerada de ciúme é prejudicial, gerando doença que se torna uma obsessão; ocasionando sempre muito sofrimento, manipulações de comportamento e crimes passionais.
Relacionados ao ciúme, devido importância pela ocorrência e conseqüência do objeto com ação refletiva, os estudos psicológicos e comportamentais são numerosos e complexos, tornando o entendimento mais complexo ainda, e, cada um procura entender conforme seu conhecimento, observação e maneira de achar. É bom discutir à luz do conhecimento e da razão.
Lembro que o maior inimigo do homem são os seus pensamentos negativos. Que o ciúme sem controle é uma paranóia que coloca o ciumento na condição de imaginar cenas de traição e estar convencido da infidelidade do parceiro; na maioria das vezes sem motivo que justifique e até na ausência total de evidências. Por isso o ciumento torna-se refém desta situação obrigando-o insanamente a procurar evidências que não existem além do seu imaginário, são tão fortes que parecem ser reais; e, o ciumento consegue até descrevê-las. O ciumento então escraviza a outra pessoa determinando o modo e a maneira que a companheira deve adotar, e, os lugares que deve freqüentar limitando a sua liberdade.
A psicoterapia é uma excelente indicação para estes sofredores situacionais, permitindo um viver melhor; trabalhando a valorização das pessoas, fortalecendo-o com o necessário conhecimento para o enfrentamento deste nefasto transtorno que pode ser evitado ou pelo menos minimizado.
Os casos mais simples devem ser tratados com o dialogo, buscando a colaboração dos parceiros, sendo um o facilitador da vida do outro. A conversa deve ser amigável e responsável, clara e objetiva, sucinta e eficiente, ocasional e constante; até obter-se a segurança necessária para que a relação possa fluir de maneira harmônica. Um deve estar comprometido com o bem estar do outro, ocasionando de forma natural a transformação no que se pode esperar e oferecer na construção e manutenção da relação. É sempre bom sabermos o tipo de comportamento que um pode esperar do outro, proporcionando a segurança desejável.
Um precisa aliviar o sofrimento do outro. Pois, viver não é importante, o importante é viver bem.
Reflexões;
- “o ciúme é o pior dos monstros criados pela imaginação” – Calderón de La Barca. –“que vida de inferno é a vida do ciumento! Antes não amar do que amar desse jeito” – Paolo Mantegazza. – “de todas as enfermidades que acometem o espírito, o ciúme é aquela a qual tudo serve de alimento e nada serve de remédio” – Michel de Montaigne. –“os ciumentos não precisam de motivo para ter ciúme. São ciumentos porque são ciumentos. O ciúme é um monstro que a si mesmo gera e de si mesmo nasce” – Shakespeare -“os ciumentos sempre olham para tudo com óculos de aumento, os quais engrandecem as coisas pequenas, agigantam os anões e fazem com que as suspeitas pareçam verdades” – Miguel de Cervantes. – “o ciúme é uma mistura explosiva de amor, ódio, avareza e orgulho” – Alfonso Karr. –“para que um bom relacionamento continuar e seja agradável, é preciso não apenas suspeitar prudentemente como ocultar discretamente a suspeita” – Stendhal. – “o ciumento sempre espiona, sempre duvida, sempre sofre; indaga do passado, do presente, do futuro; nas carícias busca a mentira; no beijo busca a indiferença; no amor teme a hipocrisia” – Mantegazza. – “ciúme é um sentimento que vem embrulhado em medo, e, normalmente o ciumento sempre acha mais do que efetivamente procura.” -“a suspeita e o ciúme são como venenos empregados na medicina: se pouco, salva; se muito, mata” – Antonio Perez. –“vale mais romper de uma vez do que alimentar permanentemente a suspeita” – Julio César.
sábado, 24 de abril de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Boa noite Professor.
ResponderExcluirRecebo sempre seus emails, quais sempre me acrescentam algo mais, então lamento por não ter tido a oportunidade de conhecê-lo antes,mais, melhor ou mesmo por um período maior na oportunidade que tive ( Fisioterapia UNINOVE V. MARIA 2005 ).
Refletindo melhor, penso que poderia não ter te conhecido e então agradeço por receber suas reflexões, procurando absorve- las da melhor forma possível,me ajudando na difícil missão de ser uma pessoa melhor, para que eu possa ajudar o meu próximo com mais amor e carinho.
Grato,
Elcio Capaccioli.
Querido Elcio
ResponderExcluirobrigado por suas palavras.
Ontem meu aluno/ hoje meu colega/ sempre amigos