Este é um período importante nas nossas vidas. É o momento ideal para construirmos um saber que nos será muito útil se na velhice soubermos fazer o bom uso dele.
É necessário considerarmos: as condições de como chegamos nesta fase; as transformações que nela ocorrerão; as conseqüências orgânicas, psíquicas e sociais, que poderão gerar na fase futura (a velhice) e como será possível vivê-la.
Algumas literaturas referem que este período ocorre, aproximadamente, entre 35 e 55 anos de idade. Outras fazem referência entre 39 até os 65 anos (para os países desenvolvidos) e até 60 anos (para os países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos).
Os períodos que compõe as fases de vida das pessoas são caracterizados por fenômenos anatômicos, fisiológicos, mentais e comportamentais. Estes fenômenos são específicos em cada fase, marcando as nossas vidas desde a concepção até a morte natural; passando pelas fases do nascimento, do desenvolvimento, da existência e do processo de velhice. Recebem eles nomes diferentes e são atribuídas diferentes idades para os mesmos períodos, conforme o local, a cultura e a forma de entender o ser humano. É lamentável, isto gera confusão e seguramente prejuízos. Procuro ter como referência os valores identificados e descritos pela Organização Mundial da Saúde.
Mais importante do que a exatidão das idades é o conhecimento das transformações que acontecem nesses períodos.
O climatério foi meu objeto de estudo prioritário. Talvez seja aquele em que vivi de maneira mais consciente. Fomos crianças que logo nos tornamos adolescentes. Dormimos adolescentes e acordamos adultos. Ao chegar aos 40 anos percebi com clareza que, por mais que o dia pareça longo, o tempo de vida é curto. De repente vivia a crise da meia-idade. Vários trabalhos científicos com o tema “Climatério” foram por mim sugeridos e realizados pelos meus alunos. Acredito existir poucas literaturas confiáveis sobre o assunto.Sem informação adequada dificulta o bom entendimento.
Este é um período caracterizado por significativas alterações e transformações bio-psico-sociais. Merecem cuidados especiais na conquista de vivermos o melhor possível, acrescentando qualidade às nossas vidas. Temos a expectativa de vivermos bem uma longa vida. Mas, como consegui-la? O climatério é o preâmbulo da velhice, fase importante no processo de envelhecimento e suas conquistas.
Conceitos antigos e desprovidos do real conhecimento revelavam que as pessoas ficavam velhas, por isso adoeciam (velhice era sinônimo de doença). Hoje sabemos que as pessoas adoecem e por isso ficam velhas. As principais doenças que interferem no processo do envelhecimento são as doenças crônicas (hipertensão, diabetes, obesidade, arteriosclerose, osteoartrose, doenças cárdio-circulatórias e respiratórias de maneira geral).
A velhice é dura, triste, feia, fedida e dolorida. O que devemos fazer para não sê-la ou ter seus efeitos deletérios minimizados (ser menos dura, menos feia, menos triste, menos dolorida, menos fedida)?
Considerando que começamos a envelhecer no dia em que nascemos (com exceção do incrível caso de Benjamin Button), o climatério é a época que devemos atuar, sistematicamente, na promoção da saúde e prevenção dessas doenças de difícil tratamento quando já instaladas. Neste período, as células do nosso organismo não têm mais a capacidade reprodutiva desejada e necessária para nos mantermos adultos jovens, possibilitando o funcionamento ideal das funções orgânicas (podemos considerar que a vida é também o conjunto das funções que resistem a morte), portanto, devemos colaborar para que o conjunto dos nossos órgãos, chamado de organismo, possam exercer as suas funções apenas com as dificuldades naturais, sem prejudicarmos mais as suas ações. Precisamos respeitar nosso corpo e nossa mente, promovendo: uma dieta adequada/ um estilo de vida compatível com nossas necessidades e realidades/ praticar atividade física.
Algumas pessoas, leigas ou profissionais da saúde, confundem climatério com menopausa. Climatério é um período (como já vimos); menopausa é uma data (o dia da interrupção da menstruação, pois, a palavra “meno” quer dizer “menstruação” e a palavra “pausa” quer dizer “interrupção”). Homens e mulheres têm climatério. A mulher tem menopausa. O homem não tem andropausa (homem idoso poderá fecundar óvulo e gerar nova vida?). Estudam-se nos homens, fenômenos semelhantes aos da TPM da mulher. Dizer que a mulher está entrando na menopausa e tratando da menopausa é um equívoco, não se trata uma data. A menopausa é um fenômeno que ocorre no climatério. Entra-se e trata-se o climatério. Merece cuidados especiais.
Nossas vidas são reguladas pela ação dos hormônios, influenciando a tríade de toda existência: o pensar, o agir e o sentir. Não somos apenas um processo de oxidação e combustão, mas, somos super sensíveis às alterações humorais. Nosso comportamento influencia nossa vida social e de emoções. A atividade física orientada possibilita a elaboração dos hormônios e uma reposição natural; é fundamental a avaliação médica periódica.
Lamento que a confusão de terminologia e datas dos períodos de vida e a falta de informações necessárias, possibilitando à cada pessoa entender e intervir neste processo, com conhecimento e de forma adequada, impedem de vivermos melhor. Algumas mulheres aguardam a menopausa para atuarem, tardiamente, nos efeitos marcantes desta fase. Perdemos tempo e oportunidades para promovermos a saúde, prevenirmos algumas doenças crônicas e diminuirmos os efeitos por elas ocasionados. Ás vezes o “estrago” já está processado. As mulheres são as mais prejudicadas pelos efeitos deletérios do climatério. O ideal é que quanto mais próximo dos 35 anos de idade, procurem ajuda de profissionais especializados. O processo de envelhecimento deve ser o mais natural possível.
Temos o hábito de classificarmos as pessoas e os sintomas em grupos. Cometemos erros. Podemos nos deparar com classificações por sub-períodos, como: Pré-menopausa; Peri-menopausa; Menopausa (propriamente dito); Pós-menopausa. Já é sabido que menopausa é uma data incluída num grande período, chamado de climatério. Algumas citações falam em: Climatério Inicial (dos 35 aos 45 anos); Menopausa (dos 46 aos 51 anos; pois 90 % das mulheres têm a menstruação interrompida neste período); Climatério Final (dos 52 aos 65 ou 60 dependendo da condição de desenvolvimento do país).
Independente dos diferentes critérios de classificação e considerações, destaca-se que o climatério é um período longo, complexo e difícil. É importante, devido necessidade de informações e esclarecimentos, uma educação consciente, para que o conhecimento gerado possibilite a participação de cada pessoa no processo. As mulheres, mais do que os homens, se desejam viver bem devem promover com disciplina, a Saúde Preventiva da Senelidade Feminina.
Precisamos considerar que o ser humano, além de determinista e fatalista, também é reducionista, pois limita a sua preocupação com relação à saúde da mulher (em qualquer sociedade dependemos essencialmente das suas ações), ocupando-se apenas com os exames de mama, do útero e da vagina. Mulher é uma pessoa, é muito mais do que um objeto para satisfazer os desejos dos seus parceiros. Cuide-se mulher! Climatério é o nome científico de um período que descreve a transição entre a maior capacidade de uma fase reprodutiva para a fase senil. Menopausa deve representar apenas um incomodo á menos.
Fica um convite aos profissionais da saúde: “preparem-se para colaborarem com a vida humana, permitindo que cada pessoa possa viver melhor uma longa vida. Mais importante do que vivermos um tempo maior é vivermos melhor, desfrutando por um bom tempo os prazeres que a vida pode nos oferecer.
Com o avançar da idade o ser humano perde vínculos. Adquirirmos novos vínculos na velhice é quase que impossível. O climatério é o tempo de construção de novos vínculos para recriarmos a vida. A conquista de uma velhice saudável é conseqüência do que e do quanto investimos nesta fase. Não importam quais sejam os nossos hábitos, mas, seremos escravos deles. Porque não sê-lo de bons hábitos? Apenas um hábito novo substitui um hábito velho. Nesta fase podemos incorporar hábitos saudáveis que irão substituir os indesejáveis, e, mantermos os bons hábitos existentes (a formação de hábitos adequados deve ser o mais cedo possível).
Em cada fase das nossas vidas ocorrem inquietações e transtornos específicos que caracterizam o período. Este é um longo período em nossas vidas onde desconfortos significativos ocorrem, potencializados por outros que trazemos das fases anteriores. Nesta fase ocorre a “Crise da Meia-Idade”, com uma maneira peculiar de “pensar/agir/sentir a vida”. O tempo nos afasta da realidade e proteção da infância, da adolescência e até do adulto jovem; colocando-nos diante de novas situações, sensações e realidades.
Esta crise é uma mistura amarga de apreensão, negativismo, medo, tumulto, culpa. Os iniciadores desta crise podem ser: - carreira não realizada ou escolha errada da profissão; - sensação de fracasso na vida profissional por não termos conseguido o sucesso desejado e ajuntar dinheiro como gostaríamos; - problemas no casamento; com o tempo as relações sofrem um desgaste natural (caso não tenhamos usado estratégias profiláticas convenientes); - afastamento das pessoas, parecendo que a família é composta por pessoas estranhas; - surgimento de alguns desejos inapropriados e tentação de aventuras extra-conjugais; - a relação com os filhos fica mais complicada, devido ter adolescentes na composição familiar, filhos crescidos que se afastam do lar, chegada de um novo filho (não programado e acreditava-se já definida a composição familiar); nova composição familiar com a presença de noras e genros; - perda natural do exercício da maternidade e paternidade, e, síndrome do ninho vazio; - desconforto pela idade e ocorrência de doenças; - medo do envelhecimento devido alterações hormonais e espoliação orgânica; - organização familiar conforme doença dos pais e falecimento.
Sintomas ocasionados pela crise: - ansiedade descontrolada; - frustração; - falta de propósito ou perda do sentido para a vida, esta sem direção; - sensação de isolamento, pois, amigos se distanciaram, filhos foram organizar suas famílias, foram estudar ou trabalhar fora, - separação do casal; - mudanças de paradigmas; não pensamos e agimos mais como antes, as circunstâncias são outras; - sensação de inutilidade; - desejo sexual decadente ou exagerado, luxúria; - temor de assuntos financeiros; - reconhecimento da universalidade do envelhecimento; - muito cansaço, fadiga constante; - pena de si mesmo; - revisão de valores e rebeldia com relação á situações que aceitava anteriormente; - presença do sentimento de desistência, vontade de desistir de tudo, e, perdendo a iniciativa; - depressão, com sensação de vazio e emocionalmente deprimido; - tédio, mesmo com relação às coisas que antes eram estimulantes e davam prazer; - intolerante, com coisas que antes tolerava com facilidade; - desesperança, independente do que se possa fazer, a situação não vai melhorar; - emotivo, chora com mais facilidade; - sensação que vai explodir devido pressão interna, com ameaça de uma crise nervosa.
Estes são alguns sinais, indicadores e sintomas, podendo ocorrer exatamente desta forma ou com pequenas variações. A existência de mais de um potencializam seus efeitos. Entraremos na velhice carregando essas sensações, que precisam ser mudadas. Os fatos irão sobrepor-se.
A velhice é um tempo que só ocorrem perdas ou também existem ganhos? As perdas são conhecidas e sempre reveladas. Os ganhos são poucos, precisam ser descobertos e valorizados. Com conhecimento e atitudes, poderemos desfrutar de muitos prazeres na velhice. Para algumas pessoas este período é chamado da “melhor idade”. Para mim procuro torná-la uma “boa idade”, com isso já me sinto realizado.
“viva uma vida boa e honrada. Assim, quando você ficar velho e pensar no passado, poderá obter prazer uma segunda vez” – Dalai Lama.
domingo, 2 de maio de 2010
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