Período de vida que tem diferentes representações conforme a cultura e entendimento das pessoas, nas mais diferentes épocas e civilizações. Pode ela ser vista com respeito, pois, representa a experiência de uma pessoa. Por já ter vivido a realidade das outras fases, é possível a construção de informações pontuais, de registrar observações e elaborar conclusões objetivas. O testemunho pessoal, mesmo sendo influenciado por convicções pessoais, pode servir de aconselhamento ou facilitar o entendimento de outras pessoas. Pode também sugerir o saber acumulado, o comportamento conforme a reflexão sobre determinadas situações e a conquista da prudência.
Nas sociedades modernas, como o ser humano vale pelo que ele produz e não pelo que já produziu ou poderá produzir, os velhos são marginalizados.
A velhice, como as outras fases, é um processo. Por isso que a vida é um processo e o homem um projeto (que nunca está pronto). Esta é a última fase desse processo na evolução natural da vida humana.
É fundamental considerarmos o conjunto de situações que implicam nesse processo. É marcado por alterações biológicas, fisiológicas, psicológicas, sociais, econômicas e políticas, que influenciam de maneira significativa o cotidiano e estilo de vida de cada um. O processo não é o mesmo para todas as pessoas, dependem destas peculiaridades que determinam a forma e expectativa de vida. Portanto, somos conseqüências das características e formas de vida pessoais, inclusive com forte influência da história familiar.
Discute-se a idade em que se inicia o processo da velhice. É preciso considerar a cultura local e as condições sócio-econômicas em que a pessoa vive. Temos certeza apenas do seu final, marcado por um fenômeno só possível para os seres vivos, a morte. Para os países subdesenvolvidos atribui-se o início da velhice com a idade de 60 anos. Para os outros países, é de 65 anos; idade que comumente coincide com a aposentadoria, final da fase economicamente ativa.
A evolução da ciência e a modernidade tecnológica permitem que as pessoas sejam melhores avaliadas, diagnosticadas, possibilitando meios de tratamento e curativos mais eficientes. A educação para aquisição de hábitos saudáveis é nosso grande aliado na concretização do desejo de vivermos melhor uma longa vida. A Organização Mundial da Saúde sugere a elevação da idade para 75 anos.
Dispomos de muitos recursos para escolhermos de que forma podemos e queremos viver, diante das realidades e condições pessoais. Nem todos, conseguiremos ser Cora Coralina, Sobral Pinto, Oscar Niemayer,... Não sou um vendedor de ilusões, por isso necessito viver franciscanamente, mas, sem mentir e enganar. É difícil encontrarmos quem prefere a verdade. A maioria das pessoas convive bem com “adulações”, “mimos”, “fazer de conta” e com as “informações que reforçam suas convicções”. A mentira é como religião, o bom é que nunca fossemos nos encontrar com a verdade. Não queremos que nosso “ponto de vista” seja contrariado. Queremos apenas acreditar nas coisas que positivam nosso entendimento, independente da confiabilidade da fonte. Esta é a estratégia dos bajuladores e dos assessores.
Temos hoje uma maior expectativa de vida. No Brasil é de 68 anos para os homens e de 75 para as mulheres. Aumentar o número de pessoas com mais de 65 anos, é uma realidade cada vez mais possível.
O avanço da idade não determina obrigatoriamente a perda da inteligência. Esta parece estar mais associada à educação e ao padrão de vida, além da genética pessoal.
Evidencia-se a perda gradual das habilidades, da capacidade de concentração, da memória e da lembrança de fatos recentes. O declínio motor e da atividade sexual tem merecido cuidados especiais. É possível vivermos uma velhice saudável, depende do nosso interesse em buscarmos a orientação de profissionais competentes. O processo de envelhecimento é objeto sistemático de estudos e pesquisas pela ciência. Envelhecer bem é produto da aplicação com arte do conhecimento ou da total ignorância sobre os processos da vida, simplesmente viver, sem conflitos.
O período do climatério é importante para a educação em saúde, na formação dos hábitos saudáveis que irão nos dar suporte para garantir uma boa velhice. Avaliação médica periódica é a estratégia ideal. A colaboração dos procedimentos convenientes, estabelecidos pelos profissionais da saúde, devidamente preparados, é indispensável. Viver bem é uma conquista.
Alterações emocionais e comportamentais mais comuns que ocorrem na velhice: - consciência da aproximação do fim da vida (a vida é também uma medida de tempo); - ansiedade pela condição de incertezas e possibilidades no futuro; perda da companheira (o); - suspensão da atividade profissional, diminuição de renda; medo da situação econômica; - sensação de inutilidade; - solidão; afastamento do grupo social; - surgimento contínuo de doenças devido declínio biológico e fisiológico; necessidade de precisar dos outros; - falta de motivação e interesses; - depressão; - medos generalizados; - apatia; - dificuldade de adaptação devido às mudanças rápidas ocasionadas pela modernidade.
Velhice, Terceira Idade, Melhor Idade ou Idoso? Qual a terminologia mais indicada?
Preconceituosamente, o uso da palavra “velhice” parece ser proibido. O conceito de ”terceira idade” e o chamamento da “melhor idade” são expressões hegemônicas, que predominam, são as mais usadas. Só podemos chamar de terceira idade ao considerarmos a infância e adolescência como a primeira fase, e, a adulta como a segunda. Entende-se como a melhor idade, devido nesta fase termos nos livrado de alguns complexos, de algumas angústias e dos desajustamentos que mais nos incomodavam; é por sentir a família organizada e independente; melhor idade é ter tempo para fazer o que gosta ou procurar gostar do que se está fazendo; e, para as viúvas é inegavelmente a melhor idade por terem, seguramente, se livrado dos “malas” ( curiosamente, as pessoas mais felizes que encontrei na vida foram as velhinhas viúvas). Idoso é aquele que tem muitos anos, que existe há muito tempo. O processo é chamado de velhice e a pessoa que passa por este processo é chamada de idoso. O tempo em que o idoso está vivendo, o da terceira idade, poderá ser o da melhor idade; para mim, se for da boa idade já está bom.
Quero refletir com as palavras de Cecília Meireles, em Retrato: “Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo. Eu não tinha essas mãos sem força, tão paradas, frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão fácil, tão certa: Em que espelho ficou perdida a minha face?
Conclusões que começo a obter na velhice e que seria interessante ter percebido antes para poder viver melhor: - Como diz Gabriel Garcia Marques: a sabedoria é algo que quando nos bate a porta já é tarde, nos serve para tão pouco. Quando era jovem tinha saúde, mas não tinha sabedoria; agora tenho sabedoria, mas não tenho saúde. Se o jovem soubesse! Se o velho pudesse! – Refletindo com Sêneca: a velhice quando chega, o segredo é aceitá-la; se possível amá-la. Só assim ela poderá te ofertar algum prazer. – Simone de Bauvoir me ensinou que a velhice é a paródia da vida.Não quero mais servir de exemplo. – Chegar à velhice é um processo natural (não depende de mim), o que fazer para administrar a simples condição de velho (isso sim depende de mim). –Mesmo sendo idoso, acredito no amanhã. Continuo á sonhar, sonhos possíveis de serem realizados. – Agora entendo sobre a necessidade de bebermos a água da fonte que nos remete à juventude, pois beleza, juventude e entusiasmo andam juntos. Perdi o garbo; estou mais vulnerável. – Nossa maior infelicidade é que as fases da vida se sucedem sucessivamente, sem intervalos para elaborarmos o aprendizado. Temos que aprender na marra, com a perda e o sofrimento. – Os velhos dão bons conselhos por que não conseguem mais darem maus exemplos. Pois, a razão prevalece na velhice porque as paixões se foram. A velhice me fala da felicidade moral e intelectual. Enquanto a felicidade da minha mocidade até a idade do lobo, falava do valor do dinheiro, do poder e do sexo. – As coisas que aprendi nas fases anteriores à velhice, só agora começo agora a compreendê-las. Tornei-me mais tolerante e obtive todas as vantagens decorrentes. – Passei grande parte da minha vida querendo conquistar a amizade das pessoas e fazer parte de vários grupos sociais; na velhice procuro me afastar do maior número de pessoas, pois, comecei a conhecer melhor o valor das coisas e o interesse das pessoas. – Tenho pouco tempo para viver, sou mais passado do que futuro, sou mais lembranças do que conquistas. O dia é longo, mas, a vida é breve. Devia viver cada fase e aproveitá-la mais. – Deliberei estar livre do convívio com pessoas de ego inflado (daqueles que perguntam: sabem com quem está falando? Já sei a resposta, com um monte de ....); descartei os invejosos (tentam sempre destruir quem mais admiram); tenho sentimento de indiferença por aqueles que almejam o lugar dos outros e utilizam meios sujos para consegui-lo. Não perco mais tempo com pessoas desinteressantes, quem não conseguem agregar nada, apenas consomem o oxigênio do ar. – Quero ter consciência da minha mortalidade, sem fingir que isto é uma possibilidade remota. Não me iludo mais por conveniência. – Não perco tempo com quem não quer aprender e nem discuto inutilidades. - Dou risada dos meus fracassos e não me encanto com meus triunfos, são dois impostores. – Não desejo mais que a vida seja como eu acho que deveria ser (nunca foi e nunca será). – Quero contemplar os encantos da natureza, mesmo sabendo que ás vezes, ela é mais cruel do que a própria sociedade. – Até acredito que o melhor ainda poderá acontecer (mesmo que seja através dos meus filhos e meus alunos; os que efetivamente sempre deram um sentido especial para a minha vida). – Observei que o homem envelhece e a mulher desaba. Para os dois é crime; para a mulher é pena de morte. – A velhice possibilitou-me, muito mais do que escutar o que as pessoas dizem é observar o que elas fazem, tem significado e sinceridade. – Velho chato e insuportável é aquele que substituiu o sonho por lamentações. A juventude é marcada por equívocos; a fase adulta e o climatério por uma luta desigual; a velhice pelo lamento. – Não ligo mais para as pequenas coisas e para algumas grandes também. Só ligo para as coisas de elevado e significativo valor. O valor das pessoas e das coisas é o que representam para mim. Como me sinto quando estou com elas ou quando tenho as coisas. Preciso de pouco (que é tudo), apenas de Paz e Saúde (entende-se dinheiro para financiar a vida). – Não me permito mais me aborrecer por causa dos outros. – Eu sou um conjunto de entendimentos e ações que formam um pacote, gostar de mim significa gostar do pacote. Não gostar de mim não me faz rancoroso, apenas livre. – Faço questão de agradar as pessoas que têm representação para a minha vida. Disponho somente cuidar delas; com as demais quero apenas ser gentil. – Amigos foram aqueles que não se incomodaram com meus êxitos; os outros foram apenas colegas ocasionais e temporais. - Em todas as idades, foi na velhice que senti a presença de Deus mais perto (fui ateu). – A velhice é dura, triste, feia, fedida e dolorida, mesmo assim vale á pena o desafio de minimizar seus acontecimentos. Preciso recriar a vida. – Amar uma pessoa é ter coragem de envelhecer com ela, caso contrário só a instrumentalizou.
A maravilhosa oportunidade nesta fase ou próxima dela, é que os filhos vão embora de casa, mas chegam os netos; com eles vivemos uma realidade indescritível, a de podermos amar o fruto do nosso amor, a extensão da vida das nossas vidas, o filho dos nossos filhos. É uma segunda chance de sentirmos o cheiro de bebê e observarmos a casa bagunçada com os brinquedos espalhados pelo chão, e, um filhote de cachorro puxando as suas fraldas. Agora temos tempo e possibilidade de contemplarmos este evento, livres de maiores compromissos e responsabilidades. Esta é a ”melhor idade”, porque nos possibilita experimentarmos finalmente a liberdade sem culpas. É a idade que possibilita a libertação, de nos tornarmos livres de alguma(s) coisa(s), para a realização livre e plena de alguma(s) coisa(s).
Irresponsável é quem não aproveita o melhor que cada fase pode nos proporcionar (carinhosamente eu os chamo de tolos).
sexta-feira, 14 de maio de 2010
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Sérgio, excelente!!!um artigo que merece leitura e reflexão, gostei muito dessa colocação "Não desejo mais que a vida seja como eu acho que deveria ser (nunca foi e nunca será)". Nancy
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